terça-feira, 18 de outubro de 2005

O anel do meu dedo

Quando foi decidido que teria o meu próprio cavalo ficou decidido que seria uma égua. Um animal calmo, de passeio. Era isso que queria. Depois da adolescência e da sede de emoções fortes era a altura de começar a apreciar a calma e a segurança.

A pessoa que tinha esta que hoje tenho disse-me: É um anel para o seu dedo! Nenhum, mesmo que feito de encomenda, lhe assentará tão bem!

E foi assim mesmo. Amor à primeira vista!
Ela não é baixa, nem calma, nem de passeio. Não é Lusitana nem submissa. É Puro Sangue Inglês, de desporto, altíssima, veloz como o vento, senhora do seu nariz, adormece tarde e dorme toda a manhã. Amiga inseparável; cúmplice.
Quando estou longe é dela que sinto a falta.

Um dia, teimei com ela. Forcei-a. Usei a chibata. Ela não queria andar mais e eu obriguei-a.
Sabia muito bem que estava a força-la, a usar a força. A páginas tantas ela atira-me ao chão.
Consegui soltar os pés dos estribos e senti-me a ser projectada pelo ar. Na queda tive tempo de pensar no que me estava a acontecer; tive a sensação que nunca mais tocava no chão. Uma curiosidade estranha aquela que senti. Sabia bem o perigo que estava a correr.

Finalmente aterrei com as costas no chão. O corpo estendido.
Pareceu-me que tinha passado uma eternidade desde que tinha saltado de cima dela. Abri os olhos e vi a luz do Sol por entre as copas fechadas dos carvalhos.
Não sentia nada nem ouvia nada. Achei que tinha morrido. E não me importei com isso.

Depois percebi que não. Percebi que tinha tido muita sorte e que tinha caído tão bem que não me tinha magoado (na verdade, umas horas depois, estava um bocadinho dorida; mas só isso). Percebi que estava viva. Não me senti aliviada com a constatação. Podia estar morta ou viva. Estava viva, ponto final.

Hoje, quase dois anos depois, ao pensar nisso reparo que podia tirar muitas conclusões.
Podia concluir que não podemos cair na tentação de sujeitar quem gostamos; que mesmo as criaturas que, incontestávelmente, gostam de nós nos podem magoar; ou, simplesmente, que não morremos quando achamos que sim.

19 comentários:

Zozô disse...

É um privilégio ser-se tão próxima de um animal tão nobre! Que inveja... ;)
Bjnhs!

nelsonmateus disse...

prazer em ver-t novamente :)

Clara disse...

Concordo com a dedução que fizeste.
1 beijo enorme

Anónimo disse...

Adorei o texto, a descrição das coisa.
mais uma vez surpreendeste-me.
bejokas

cinderela disse...

Concordo a 100% com as tuas deduções. É mesmo isso que acontece.
Beijinhos

Rui disse...

Podemos/devemos deixar-nos sujeitar por quem gostamos? Podemos/devemos magoar quem gosta de nós?
Obrigado pelo teu texto.

Anónimo disse...

Gostei do post e gostei da conclusão... que mais há a dizer?
Beijocas

Vilma disse...

Muito mas mesmo muito interessante esta tua reflexão! Gostei! :))
Beijos e bem vinda de novo..já sentia a falta!

Xuinha Foguetão disse...

Margarida,

gostei de abrir o teu blog e ver um novo post.

Vi-o logo pela manhã, mas preferi guardar para agora.

Li-o com calma em casa...

Gostei mt do que li, gostei das deduções...
Não gostei de saber q n te importavas de morrer.

Acho que n vais voltar a usar a chibata.

Beijocas enormes e fica bem.

Anónimo disse...

Pelo menos fiquei a saber pela internet que, ainda que desaparecida, parece estar bem. Telefone: sabes o que é?!
E é verdade que esse animal é o "anel do teu dedo".

C_de_Ciranda disse...

E, apesar de já ter experimentado muitos belos, raros e valiosos aneis, que "inveja" de não ter condições para poder ter um anel desses... Que pena...

Beijinho minha querida

*** Ciranda

PS: E isto lembrou-me outra coisa. As meninas, à medida que vão crescendo querem ser bailarinas, médicas ou professoras. Eu só queria ser princesa e ter um cavalo aos pés da cama...

daqui disse...

ai margarida... e eu que ando vai-não-vai para retomar a equitação (aqui é mesmo praticamente irresistível!)... Deduções que partilho, estas. E ainda acrescentava outras...

amiguita disse...

Deve ser nesta altura que ela já te perdoou.

BEijinhos Tânia

Anónimo disse...

Olá Margarida. Ontem enviei-te um mail do computador de uma amiga e esqueci-me de assinar. Já sabes q sou cabeça no ar! Beijinho da Guerreira

augustoM disse...

Os animais são assim, por muito meigos e dedicados que sejam, há um limite que não permitem que seja ultrapassado, e esse limite nós temos que respeitar.
Reconher a própria morte, não sei, julgo que ainda não houve ninguém que contasse como era.
Um beijo. Augusto

Margarida Atheling disse...

Guerreira: Li o mail. Obrigada!
E é verdade. Acertaste " na mouche"!

Anónimo disse...

Mesmo os que nós mais gostamos nos magoam por vezes, mas é talvez para aprendermos alguma coisa, porque simplesmente também nos amam. Bjocas. Adorei a tua descrição.

kikas disse...

Aí se comprova que o uso da força não leva a lado nenhum e mesmo pessoas ou animais que gostam de nós têm necessidade de nos fazer "cair" na realidade quando não estamos a actuar da melhor forma :-)
beijocas
kikas

Sara MM disse...

O texto tá liiiiiiiindo!

E qt à queda, bem sei que duram uma eternidade, dão-nos tempo para pensar em tudo. Eu no fim, o que queria saber 1º era onde e qt me tinha magoado... mas tive sempre mta sorte: nada mais que nódoas negras!

BJS a ti e cenourinhas à égua!