segunda-feira, 3 de abril de 2006

Realidades

Às vezes uma conversa pelo telefone é fria, pragmática, mecânica; trata-se de assuntos de trabalho. Nem se conhece a cara que está do outro lado ou, conhecendo, ignora-se voluntáriamente as expressões e os contornos. Desliga-se e retoma-se os afazeres.

Às vezes uma conversa pelo telefone é morna. Independentemente do assunto. Conhece-se a cara e, quando o som denúncia um sorriso, sorrimos também e vemos dentro de nós a imagem desse sorriso. Desliga-se e continua-se a fazer o que estavamos a fazer.

Às vezes - muito menos vezes - uma dessas conversas pode fazer disparar o coração, tremer as mãos... Mas depois desliga-se. Podemos ficar a sentir o corpo mais leve que uma pena, podemos conservar um sorriso idiota e denúnciador, mas continuamos o que interrompemos.

Mas, outras vezes, uma conversa ao telefone pode atingir-nos como um tiro, do qual nem procurámos esconder-nos porque não sabiamos que vinha aí. Uma pessoa pode abrir-nos a porta para a sua realidade, e essa realidade pode ser tão sombria que nos faça sentir sem chão debaixo dos pés. Nessa altura percebemos o quanto temos sido infantis até aqui, o quanto a ausência de problemas sérios nos pode levar a criar outros para preencher... para preencher nem sei o quê. Percebemos também o quanto a vida é frágil, e a sorte que tivemos até aqui, e vemos como fútil cada acontecimento que vivemos como um drama.
Nestes, quando se desliga, não conseguimos retomar nada. Ficamos com um nó na garganta, sem força nas pernas, olhamos em volta e parece que não reconhecemos nada. Nestes... as coisas não seguem iguais.

16 comentários:

Marta disse...

Tens toda a razão, Margarida... Por vezes, ao depararmo-nos com outras realidades, é que percebemos realmente que somos uns sortudos ou como os nossos "problemas" são tão pequeninos...
E eu sou da opinião que não devemos aprender só com aquilo que passamos, devemos também aprender com aquilo que as pessoas à nossa volta passam...
Acima de tudo, é preciso darmos força a quem dela precisa!

Beijocas, linda.

taxi driver disse...

a maior parte das pessoas nunca passou por um grande problema,
bjs

reborn disse...

Concordo com tudo !
Beijinhos ************

Piquinota disse...

É verdade!!! A nossa vida às vezes parece tão pequena, tão insignificante quando nos deparamos com a vida, com os problemas de outras pessoas!
Devemos é aprender a nunca desanimar, a ver sempre o lado positivo das coisas! E devemos aprender com algumas das pessoas que estão piores que nós, porque enfrentam a vida muito melhor que nós!

Jinhos

Smas disse...

Às vezes as pessoas pensam que o mundo está a desabar e depois verificamos que há tanta gente pior e que os nossos problemas são sempre pequenos. Eu costumo sempre pensar que podia ter sido pior.
Não sei se me fiz entender...
Bjs

Anónimo disse...

Este post revela (mais uma vez) que a Margarida tem um coração enorme! Apesar do infortúnio, a pessoa que estava do outro lado do telefone tem, seguramente, uma amiga com quem contar. E isso pode ser determinante para nos carregar nos momentos difíceis (assim um pouco como nas "Pegadas na Areia). Um beijo enorme de muita força e o profundo desejo que tudo fique bem. Abraço com carinho da Guerreira

gralha disse...

Tenho tanto medo de receber um desses telefonemas... Deve ser por isso que não gosto de falar ao telefone.
Já tenho pensado nessa questão dos problemas. É um bocado parvo, mas acho que nos vamos afligindo com coisas menores para criarmos resistências para um dia em que a coisa seja mesmo negra. Ou então, é só ansiedade.
Beijinhos!

amiguita disse...

é uma dfesa que eu arranjei à muito, quando me acontece alguma coisa na vida menos boa, eu penso nas pessoas que tâm problemas muito mais sérios e graves do que o meu, e apesar de derramar as minhas lágrimas, o meu problema torna-se muito mais pequeno.

Beijinho grande.

kikas disse...

São estes "telefonemas" que nos fazem pensar e repensar a nossa vida e tomarmos atitudes que por vezes estão esquecidas...
São nestes momentos que nos sentimos mesquinhos e temos a certeza que não valorizamos aquilo que a vida nos oferece...mas penso que também são estes momentos que nos fazem crecer...

Sara MM disse...

É bem verdade... mas não é o mesmo com conversas ao vivo e a cores?! Depois de a conversa a acabar podemos sentir exactamente o mesmo... só varia por podemrmos estar ainda junto ou já longe dessa outra pessoa.

Muita sorte para quem estava do outro lado...

Aproveita então a ausência de problemas sérios :o) (já os tiveste q.b. que bem sei...)

BJssss

Xuinha Foguetão disse...

Concordo ctg qd dizes que mts vezes procuramos problemas na ausência de problemas sérios.
Parece que não conseguimos viver sem os criar, sem aceitar que temos sorte.
Às vezes não sabemos ser felizes.
E esses nós na garganta mostram-nos o quão pequenos somos em certas situações.

Uma beijoca grande.

Miguel disse...

Que nessas inevitaveis e horriveis situações, cresçamos é tudo o que se pode desejar.
Não podemos fugir, elas acontecem.
Não podemos ignorar, são duras de mais.
Não ficamos indiferentes, temos coração.
Mas...
e depois...
"nada continua igual". Por quanto tempo? EM que medida mudam? Apenas conhecemos o facto e sofremos ou, modelamo-nos a aquilo que é importante, olhamos de forma diferente para as pessoas, somos mais adultos numa alma mais infantilmente pura?
Cresçamos... é a solução. Porque mesmo viver a dor, apenas... é egoismo. Vivemo.la e mais nada... Alterar-nos e a nossa relação com os outros e com o mundo, isso sim, é crescer.
Beijo

Unknown disse...

São situações complicadas...
Quando vemos algumas situações que os outros passam os nossos problemas parecem, coisas normalíssimas do dia a dia...

enfim... muita força!!!

bjs

isa e pedrocas

amigona avó e a neta princesa disse...

Espero que não tenhas sido tu a atender esta chamada!

Beijinho...

Dani disse...

As vezes nem nos apercebemos do quão pequenos que somos...

Teresa Durães disse...

Às vezes é só um telefonema tão aborrecido que não conseguimos concentrar na conversa. Até que alguém do outro lado, subitamente, pergunta. O que pensa?

(não sei, não ouvi. O que deverei pensar?)