Nos tempo da minha licenciatura era para lá ter ido. Era, mas não fui.
Conheci-o, em pequenina, na altura em que passava as férias lá por terras do Sul. Mas de tão pequenina, não guardo a menor recordação dele.
O castelo de Silves, acho que mais do que qualquer outro, saltava-me para a frente nas palavras de um professor e em textos lidos. E, a par daqueles episódios concretos, datáveis, crús havia um não-sei-quê de névua de mistério, de lendas de mouras encantadas, de cheiro a laranjeiras em flôr.
Um dia, a esse castelo associei um episódio meu. Mau.
Podia não o ter associado, podia ter associado muitos outros sítios desse antigo Al-garb. Podia, mas foi a ele que atirei as culpas, foi a ele que associei os males daquele momento, os que vinham de trás, os que se seguiram.
Durante muito tempo ouvir falar do Castelo de Silves fazia-me estremecer. Deixava-me inquieta como um tigre numa jaula, arrepiada, com vontade de fazer calar quem ousasse pronúnciar tal nome. Visualizava-o mentalmente e sentia vontade de lhe atirar pedras, pedras grandes, com uma força maior do que a minha.
Com o tempo a raiva foi dando lugar ao medo. O medo que o som daquele nome trouxesse essas coisas más que estavam guardadas já tão fundo. Tinha medo dele. Era uma espécie de caixa de Pandora; estava ali quieto, silêncioso... mas a qualquer momento podia mexer-se e fazer sair o mal que continha, tornar tudo presente outra vez. E no entanto... começava a reconhecer que tinha o seu encanto.
Tentava - e conseguia - não pensar nisso, afinal não era presença no meu quotidiano.
Percebi, muito por acaso, numa sms no Verão, que lhe tinha perdido o medo. Olhei para a mensagem, li, voltei a ler... e ri-me. Tinha-lhe perdido o medo. A menção daquele Castelo tinha deixado de me assustar e eu nem tinha dado por isso.
Nos meses seguintes passei-lhe por perto muitas vezes, bem ciente da próximidade desse grande Senhor de cores quentes. E gostei disso, dessa próximidade.
Ontem uma pessoa pegou num livro e mostrou-me para me fazer uma pergunta. Eu olhei e vi, vi a fotografia, aquela - mesmo aquela - que não podia ver. Vi e, mentalmente, só me apeteceu sorrir e dizer: Olá meu Velho Senhor!
Ele não teve a culpa, e eu que já tinha percebido que não lhe tinha medo, voltei a gostar dele. Mais do que antes.
9 comentários:
a zona histórica está em obras, no âmbito do Polis.
salvo erro da minha parte, as laranjeiras já não existem, mas deverão ser incluidas no futuro jardim islâmico k será criado no interior do castelo.
Às vezes associamos lugares a acontecimentos como se fossem os lugares os culpados...
Bjs
:)
Uma beijoca!
É tão estranho quando culpamos os lugares pelos acontecimentos menos bons da nossa vida...
jinhos e óptima semana
Estás livre :)))))))
Beijinhos*******************
A última vez que lá estive, comi cabrão à-não-sei-quantas. Não sei se isto será uma razão para lá ir testar a ausência de medo.
Dani: o meu único medo, neste momento, seria comer uma coisa com esse nome! Mas isso é bom?
Apesar do nome assustador, eu até gostei bastante. Já a Sónia, detestou! Mas compreendo perfeitamente o teu medo. O prato não estava na lista, e quando o empregado nos perguntou se queríamos experimentar, quase me engasguei! :)
Esse gajo (o Castelo) é meu amigo! ;)
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