Ontem, ao fim do dia, passei pela faculdade. E quando digo que passei quero dizer extactamente isso. Não fui lá; passei por lá, pela frente, de carro, a caminho de casa.
Nos meus planos para um dia cheio como o de ontem, nunca esteve incluida sequer a intenção de ir à faculdade - por mais que o devesse fazer!
Tantas outras coisas importantes por fazer... O que havia era a intenção de nem me lembrar da faculdade, e da tese, que está a tornar-se um pesadelo que me persegue.
Mas acabei por passar lá à frente.
Já estava escuro, o placard junto à Gulbenkien marcava 18:48, o trânsito estava quase parado e as luzes acesas no interior da torre da faculdade entravam-me pelos olhos, mesmo não querendo olhar.
Queria passar depressa, mas os semáforos e o trânsito de fim de dia não deixavam!
Lá olhei para dentro, quase a medo, talvez inconscientemente, à procura de alguma coisa que ainda me fosse familiar. Procurei distinguir as luzes no 6º andar, as salas que estavam ocupadas, quem estaria lá dentro ainda...
Estavam quase todas apagadas. Já quase não estava ninguém naquele departamento...
Entretanto o trânsito avançou e eu avancei com ele. Saí dali, prestei atenção a uma padaria ainda aberta, ao túnel por onde passei...
Regressei novamente a casa. Não fui à faculdade, não tinha a intenção, não o vou fazer esta semana... mas sinto um peso enorme! Sinto que carrego um fardo pesadissimo. Sei que tenho que ir, que enfrentar pessoas e situações que me vão fazer reviver o pior momento da minha vida , sei que vou ter de falar nele, antes mesmo de falar na tese! Sei que é isso que vai acontecer!
Não era o momento ainda. Não me sinto com força para isso mas, por uma questão de calendário, tenho que o fazer agora, sob pena de perder todo o trabalho. E o não acabar a tese é perpetuar um problema!