terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Coisas para as quais [não] nos preparam em relação à maternidade

Ter filhos é, de facto, a melhor coisa do mundo. A melhor; a anos luz de qualquer outra coisa nesta vida. Anos luz!
É incomparável e inenarrável e, por isso mesmo, seria inútil e patética qualquer tentativa para explicar o que sinto.

Ninguém nos prepara para gostar tanto de alguém, ninguém consegue explicar-nos que, de repente, uma pessoa pequenina, que já julgavamos amar para além do possível, nos vem provar que não há, neste tipo de amor, impossíveis, nem limites, nem modo de quantificar seja o que for; que não há nada, nada comparável e que é tão forte que não parece, sequer, humano.
E ninguém nos prepara porque não há, de facto, modo de o fazer. Porque não há palavras para o descrever, nem categorias para o arrumar, nem nada com o que se possa comparar. Num instante um pequeno ser sai de nós, olha-nos pela primeirissima vez e a nossa vida começa também naquele instante.

Mas existem outras coisas também. Existe o outro lado da maternidade. E para este também ninguém nos prepara, e é pena. Mas também para este parece ser difícil fazê-lo.
Durante a minha gravidez duas pessoas apenas me alertaram para ele, a minha prima e uma outra pessoa que não linko porque creio que já não tem blog, numa tentativa de me aliviar o impacto a que, inevitávelmente, seria sujeita.
Essa parte menos cor-de-rosa da maternidade também existe, as dificuldades são muitas e é bom contarmos com elas.

Apesar do excelente atendimento que tive no local onde a Mafalda nasceu, dois dias depois (menos umas horas até) depois do parto, estava em casa com uma bebé nos braços, absolutamente apaixonada por ela, mas ainda a tentar cair em mim depois de tão grande reviravolta na minha vida. Eu e o pai, ali estavamos, pais de primeira viagem, com um ser indefeso a nosso cargo.
Ensinaram-me muitas coisas mas não me avisaram que,por exemplo, um dia depois de estar em casa, ela podia começar a chorar desesperadamente, a contorcer-se. E nós... bom, nós contorciamos o coração sem saber o que fazer.
Telefonei para o Saúde 24 e expliquei os sintomas, respondi a todas as perguntas e, do outro lado, dizem-me que ela tem que ser vista numa urgência pediatrica de imediato, no máximo de 4 horas. Assim mesmo, sem mais explicações. E eu tremo, e choro, e sinto faltar-me o chão debaixo dos pés, e pegamos nela e voamos para as urgências do Dona Estefânia. E eram cólicas. Apenas cólicas, coisa natural e, parece, inevitável. É o processo de amadurecimento dos intestinos. É natural e não há por que se preocupar.

Pois. Não estava preparada, não.
Sabia que os bebés tinham cólicas, mas não estava preparada para as ver na minha filha tão pequenina. Não estava sequer preparada para a ouvir chorar sem que eu conseguisse aliviar-lhe, como por magia, todos os males.

Muito menos estava preparada para o que a minha prima e a M. tentaram alertar-me durante a gravidez: ter filhos é complicado e doloroso, e não apenas na hora do parto.
Ter filhos deixa-nos com os nervos em franja e o coração em frangalhos, o mundo desaba-nos inteiro na nossa cabeça, tudo nos dói estupidamente, todos os medos são nossos, andamos cansadas, ninguém nos compreende, já não sabemos quem somos e para onde foi a pessoa que eramos antes, não nos reconhecemos nem no corpo, que já não é de grávida mas que continua pesado e sem as curvas de antes, nem na alma, que já não é a mesma, não temos tempo para nós nem para nada e, pior de tudo, estamos sózinhas nisto, e ninguém nos compreende.
Somos frágeis como o mais fino cristal mas, ao mesmo tempo, fortes como a mais alta montanha, se se trata de defender a nossa cria. Ferozes mesmo, num instinto de animal, muito para lá do racional, que deve ser a única coisa que herdamos dos tempos mais primitivos.

Ninguém nos prepara verdadeiramente para este impacto, porque, tal como não é possível prevenir-nos com realismo para a dimensão do amor que vamos sentir, também não o é para esse enorme impacto emocional que nos vira, por completo, do avesso.
Ouvi as palavras da minha prima e da M., ouvi-as com atenção e agradecida. Sabia que só podiam estar a dizer verdades, sabia que só por me quererem bem estavam a falar-me das coisas menos fácei e luminosas que me esperavam, enquanto todas as outras pessoas apenas referiam as maravilhas que aí vinham. Ouvia-as mas, apesar de ter muito presentes as suas palavras, eram apenas palavras e nenhuma palavra é suficiente para definir este "coice emocional".

Ter filhos não é fácil. Ter filhos também dói. Dói para além do parto, sim.
É bom que se tenha isso presente. É bom que não se mistifique e mitifique a experiência da maternidade.
Mas ter filhos é bom. Ter filhos é, de facto, a melhor coisa do mundo! Mesmo! Eles valem, tudo, tudo, tudo! E não há nada mais maravilhoso do que este anjo em forma de menina pequenina que dorme agora aqui mesmo ao meu lado.

Obrigada prima (não me esqueci do que te devo, apesar de parecer!)! Obrigada M.!

14 comentários:

Clara disse...

Disparate. Não me deves nada.
Lindo o texto.
Aliás deves sim: as fotos da minha sobrinha, nem uma para amostra.
(o segundo é mais fácil, deixa lá).

gralha disse...

É isso tudo. É isso tudo mesmo.

(e não há como avisar as futuras mães porque não há palavras, só vivendo a experiência)

beijinhos e espero que agora já esteja tudo mais sereno :)

Mocas disse...

Margarida,

Senti isso tudo. Levamos uma tareia gigantesca e ficamos moidas de pancada ... e depois renascemos das cinzas.

um bj muito, muito grande!

Vilma disse...

É verdade, os filhos, a maternidade, estão cheios de paradoxos! :))
um grande beijinho para vocês!

Ana Paula disse...

Mas as coisas boas fazem esquecer as más.
Mas dói imenso. E vê-los doentes, sem conseguirmos fazer nada custa.
Faz parte.

tomodoro disse...

E mais? Ai... Eu sei que nem tudo são rosas, muito pelo contrário. Há uma série de coisas menos boas. Mas não me sinto nada, nada preparada. Acho que ainda não realizei que daqui a umas semanitas, poucas, tenho uma criaturinha, que já amo, nas mãos e que terei que tratar dela, com todas as dificuldades e responsabilidades que isso implica.

Anónimo disse...

E já agora ensina-nos a não criticar os blogs de quem tem bebés... Só quando se é mãe é que se percebe um babyblog...
Nunca digas desta água não beberei.
Muitsa felicidades para vocªes

NaRiZiNHo disse...

As vezes as pessoas tentam alertar-nos, mas nem sempre escolhem as melhores palavras e não as recebemos mt bem.
Eu tinha +/- noção, talvez por tantas vezes ouvir que não fui uma criança fácil, que dei mts problemas.
Por cá temos aguentado bem, nãos nos podemos queixar, tendo em conta o que se tem passado com outros casais.
Para as cólicas, não sei como resolveste mas por cá, recorri ao Infacol logo na 3ª semana de vida do JA.
Não fiques ausente mt tempo.
:-*

Xuinha Shop disse...

Beijos grandes para os três.

:)

PM disse...

Adorei ler-te!!!!
Beijoca para ti e para esse anjo em forma de menina!!!!

Anónimo disse...

Que bom ter notícias vossas! Tinha tantas saudades!

Assustei-me com esse telefonema para a saúde 24. Se eu me assustei, imagino vós. Ai!

Gostei do texto. Muito, muito. Bastantes coisas mudaram, mas continuas a escrever maravilhosamente. :)

Minha querida, muitos beijinhos.

Luna disse...

como tu dizes te ser mãe é isso tem seu lado bom e mau, mas os lados bons superam menos bons. aproveita ela cresce depressa demais
bjkas
Luna

Ana disse...

fiquei sem saber o que dizer... escreveste o que sinto de maneira que eu não sou capaz... obrigada... bejinhos para vocês
Ana e Gil

Carla Santos Alves disse...

Bem vinda ao mundo maravilhoso da maternidade!!!
Ser mãe é um dom minha querida!O menos bom supera-se com um abraço doce e terno que a tua filhota te vai dar!...estes primeiros dias são assim mesmo, mas vais ter saudades!

Bjs