Almocei com uma amiga. Falámos, muito. Como convém, que já que somos mulheres e que temos a fama, ao menos que tenhamos o consolo de a merecer.
Sorrisinhos, gargalhadas sonoras, olhares apreensivos, suspiros, caretas... surgiam de acordo com os assuntos que variavam depressa.
No meio de conversa fluída, leve, bem disposta, como o dia de Sol lindo que tivemos hoje, lá surgem as outras. Daquelas de outro tipo, daquelas em que baixamos um bocadinho o tom, falamos mais devagar, olhamos mais fixamente para a pessoa com quem falamos. Confissões. Ou confidências.
Ouvia-a. Tinha-me pedido para almoçar com ela porque não tinha querido ir almoçar com ele e a mãe dele.
Sogras!!! Dizia-me ela. Que são todas iguais. Bicho mau, ao cimo da terra, que servem apenas para estragar o que podia ser perfeito.
Mas não a conhecia, a ela, à dita sogra. Nunca a tinha visto, nunca lhe tinha ouvido a voz, nunca, sequer, viu uma fotografia dela. Mas não podia ser boa!
Disse-lhe que talvez estivesse errada, que percebia um certo receio, mas que talvez não fosse assim. A palavra assusta, mas o que ela é é mãe dele, criou-o. Criou-o uma vida inteira e depois... há-de vê-lo seguir o seu caminho com outra pessoa que, naturalmente, gostará de saber que gostará dele assim de uma forma incondicional, que o ampare, que o compreenda, que o alimente capazmente, que...
Disse-lhe que acho até que podiam ser muito boas amigas, já que em comum têm uma coisa muito importante: o enorme afecto por ele. Que, se calhar, ela devia sentir-se eternamente agradecida a essa sogra porque, afinal, se não fosse ela, ele simplesmente não existia.
De qualquer modo, sogras, são pessoas e, como tal, há-as boas e há-as más. Só isso.
Sorriu e disse que era por isso que gostava de me ter como amiga. Que a ouvia e compreendia, mas que tinha sempre a certeza do que era certo.
Nada mais errado!!! Completamente!
Não tenho certezas de nada!
Já tive. Já tive muitas certezas, que se esfumaram. A vida levou-as numa altura em que levou outras coisas, e eu nem tinha percebido que não as tinha já.
Levou-as, e quando olhei para o lado à procura delas, reparei que não estavam lá, e que me sentia perdida, que não me conhecia já, que... precisava de um tempo para me encontrar de novo.
E encontrei. Pelo menos um bocadinho.
Às certezas, não vi mais. Pensei, durante este percurso, que voltaria a encontrá-las. Não as mesmas, mas outras. Mas não.
Das primeiras fiquei a saber que não eram verdadeiras. Das segundas... não fiquei a saber nada.
Sei que sentia necessidade delas, de ter algumas, que chorei por elas e que, depois de gastas as lágrimas e as forças para protestar, lá vinha um novo dia em que aprendia a viver sem elas e a aceitar só o que a vida me dava. Coisas boas, na sua maioria, mas sem as tais certezas.
Não, não tenho certezas - a não ser de coisas fundamentais - e aprender a viver sem elas foi a lição mais difícil da minha vida.
É por não as ter que fui obrigada a ser mais ponderada (...pois..., deixei de atirar coisas às paredes!).
Viver sem certezas, ter de as procurar em cada momento e não as ter como um dado adquirido e universal, foi como aprender a andar de bicileta sem rodinhas. Só que é mais difícil e demora mais e como esta nova Margarida ainda é uma menina, de vez em quando desiquilibro-me ( às vezes, desiquilibro-me mesmo muito e chego a esfolar um joelho) e preciso que me segurem a bicicleta para continuar (sim, calha-te quase em exclusividade a ti, menino, mas também foste tu que deste o principal impulso para que, na altura, me sentisse suficientemente segura para andar sem rodinhas. confesso que pensei que seria mais fácil... mas, obrigada!).
Certezas?! Não, não as tenho.
É por isso que tenho mais atenção aos pormenores, à vida... é por isso que aprendi que as coisas não são sempre brancas ou pretas. Há tantas cores por aí...