O calendário é implacável. Cai-nos em cima, mesmo quando fazemos um esforço para nos distrairmos e fingir que não estamos a ver que estamos no dia e mês que estamos.
Ela está aí, a silly season. Em força. Reflectida em todas as coisas ( e ausências).
Fecho os olhos com força e abano a cabeça como que a tentar afastar de mim as lembranças associadas à época. Mais do que as lembranças, as sensações. Coladas à pele já, de tantos anos de hábitos, gestos e vivências repetidos.
Não consigo.
Tenho conseguido conter as faltas, mas não apagá-las.
Não me lembro de mim assim. Não me lembro de um Agosto longe do mar. Não me lembro mesmo.
E ouço, acidentalmente, esta música e as coisas caiem em avalanche: o cheiro do mar; a maresia nos cabelos; a água fria, a areia nos pés; as amigas se sempre; a ausência de horários e problemas, a sensação de viver, temporáriamente, num mundo aparte, só nosso, fora de todas as coordenadas de espaço e tempo; os risos que repetimos iguais, desde crianças; a cumplicidade serena e segura; os cheiros...
Não sei quantas vezes ouvi esta música lá. Em noites estreladas a ver as pequenas luzes das traineiras no mar, ou com o manto de maresia que me aconhegava e não deixava ver quase nada. Ouvi muitas vezes, não porque a escolhesse, mas porque sim, porque alguém, nalgum momento, nalgum lugar, a passava. Talvez porque ela foi escrita, originalmente, tendo como inspiração, esta praia. A minha praia...
Não importa.
Este ano não. Este ano não é assim. Não é igual aos outros. Este ano não estou lá e, por isso, sinto-lhe a falta. Como quem sente a falta de uma parte de si mesma.
Mas este ano é diferente em tudo. É um ano de espera.
Para o ano também não será igual, porque nada nunca mais será igual. A despreocupação, a ausência de horários e obrigações não será mais a mesma, mas isso não importa. Ou importa, mas não é coisa má, é boa, muito boa.
Para o ano a vida recomeça. Para o ano alguém há-de começar a sentir a maresia e essa água fria, alguém há-de experimentar a areia e começar a descobrir risos e amizades cumplices, como nós, mães, descobrimos há tantos anos já.
Para o ano... Para o ano a vida recomeça.
8 comentários:
Também eu lhe sinto a falta. Ainda no outro dia comentava isso. O cheiro. A falta de horários. Para o ano não há nada disso... haverá outras. :o)
Música linda.. e como me retrato nas tuas palavras!
Para o ano, será melhor, claro! :)
Mas a "nossa" praia de cada um de nós está lá sempre à espera. E vai ser uma experiência única a próxima vez que lá fores, já com a pirolita cá fora :)
beijinhos
mais ter coisas depois compensam essas falhas vais ver
bjinhos aproveita pq vais sentir saudades
luna
Coucou Margarida,
pois é verdade que o mundo (europa sobretudo) para completamente em Agosto.
Tenho muitas saudades de viver perto do oceano, por isso ir a Portugal fez-me respirar um bocadinho :)
Um lugar encantado... nao conhecia :(
Beijo meu e bom domingo,
A Elite
:)
Beijos grandes e obrigada pela visita
Espero que tenham dado o tal mergulho.
Beijos
"Para o ano...Para o ano a vida recomeça"
Que assim seja Margarida.
querida margarida... que saudades de passar pelo teu cantinho... e que boa surpresa que vi aqui na tua barrinha... O tempo tem sido muito pouco para visitar os blogues que antigamente visitava (por motivos semelhantes ao teu, podes ver no blog). Queria deixar-te os meus parabéns pela tua gravidez... beijokas grandes
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