sábado, 31 de dezembro de 2005

Dakar





Depois do trabalho... Sim, depois do trabalho, tarde, sem jantar não resistimos. Nem sei porquê. Se calhar só para dizermos a nós mesmos: Estive lá!
Paciência se não tinhamos jantado; lá fomos.

Não seria o local mais normal para eu estar, mas valeu a pena.
Engraçado aquele ambiente; tanta gente, tanta gente conhecida e desconhecida, tanta gente diferente, de países diferentes, com aspectos diferentes, ouvir tantas línguas diferentes; os preparativos; a boa disposição; as histórias que se contavam deste ou daquele, como o do Gordon, que o ano passado se sentou em cima do carro, cruzou os braços e disse que para ele chegava, estava com saudades da mulher; as músicas e as luzes; o sentimento que pairava de festa e, ao mesmo tempo, de início de uma aventura de que, de algum modo, naquele momento todos nos sentiamos participantes ou, pelo menos, cumplices; o desejo sincero e partilhado de que corra bem, para todos; e as imagens do deserto em ecrã gigante, lindo, poderoso, mágico.
E o orgulhozinho que cresce cá dentro por ouvir a opinião dos estrangeiros, por perceber que este nosso País, apesar de tudo, se mantém de pé, que é admirado em algum momento, que ainda congrega nele, num ou noutro momento, as atenções, que é nosso!


Depois... bom, depois a 24 de Julho tem a resposta para o resto da noite. E depois dormir na minha caminha, e depois acordar com olheiras e decidir que não vou ver a partida. Mas valia a pena!

Ah... era dia de fazer balanços, não era?!
Mas não o faço. Não hoje.
Mas foi um ano cheio, intenso, inesperado, diferente de todos os outros. Não sei se queria que acabasse, mas é o calendário...
Sobre o que aí está a chegar pensarei amanhã, ou depois.

BOM ANO!!!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Intimidade

Há sonhos que até percebemos porque os tivemos, mas há outros que surgem do nada, sem explicação nenhuma. Tive um destes esta noite. Sonhei, sem motivo nenhum, sem qualquer razão, com alguém que me foi muito próximo durante algum (muito) tempo.

Sonhei com uma situação banal: que iamos numa rua qualquer, a pé, fazer alguma coisa... Qualquer coisa sem importância. Mas foi estranho sonhar com essa pessoa, tanto tempo - e tantas coisas - depois.
Depois de mais de dois anos de distância, depois de todos os problemas que tivemos, das discussões, das zangas que envolveram amigos e família, depois de não nos vermos desde então, de raivas, de assuntos doridos, depois do fim, depois de estar certa de que não queria mesmo voltar a cruzar com ele. Depois de ter doido, muito.
Mas depois de já não doer, de não ser importante, de haver outras coisas na minha vida, depois de já não ter medo de o encontrar, depois de já não me importar, depois de já não sentir. Depois de tudo, emocionalmente, resolvido.

Mas acordei assim, a sentir saudades da intimidade que tinhamos. Não dele! Da intimidade!
Saudades de saber exactamente o que ele gostava de comer; de trabalharmos juntinhos; de fazer compras com ele; do cão dele; dos irmãos e da mãe e até do pai; de lermos as mesmas coisas; de saber tão bem como ele guiava depressa, de eu me assustar sempre e de ele rir disso; de saber que gostava de estacionar em lugares indevidos; de estar à cabeceira dele quando estava doente; de tratar dos assuntos dele quando estava fora; de saber que dormia sem almofada mas que gostava de roubar a minha para eu dormir com a cabeça no peito dele; de terminarmos as frases um do outro; das centenas de emails e de horas e horas ao telefone - muitas vezes madrugada dentro - até adormecermos, quando houve distância; de ser ele o primeiro a saber tudo o que era importante para mim; de ser eu a primeira a quem contava os sucessos e os problemas; de usarmos a carrinha do meu pai; de saber, melhor do que ele o número que vestia, e de ser eu a compra-lhe as meias; de dividirmos a cadela; de acordar e adormecer e tê-lo ali a fazer-me festinhas e a velar o meu sono; de ensiná-lo a cozinhar; das rotinas e das surpresas; de anos de cumplicidade...

Saudades disso, não dele, que é assunto encerrado. Mas, ainda assim, interrogar-me se o coração não bateria mais depressa se o encontrasse. Mesmo que seja tudo, mesmo, "assunto encerrado", mesmo tendo a segurança de que não há riscos de recaídas - senão não estaria a falar do assunto.
Mas tenho saudades, sim... disso; da intimidade!

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

:-)


Se este não for o momento alto do dia será, concerteza, um dos mais divertidos.
Num intervalo para um café - na verdade, para um chá - estavamos a combinar uma visita às Berlengas. Quando uma colega nossa, amante ferverosa do mergulho chega perto, digo-lhe isso mesmo; que estavámos a combinar uma ida às Berlengas dentro de pouco tempo.

Ela sorri um bocadinho, como quem concorda e o J. acrescenta mais qualquer coisa que nem reparei.
Às tantas, com um sorriso mais aberto diz:

- Está bem! Então mas temos que marcar as passagens!

- As passagens?!

- Sim! Temos que comprar os bilhetes. Vamos em que companhia?

- Companhia...?! Ó V. nós vamos de barco!!! Vamos no barco da irmã da F.!

- De barco?! Milhares de milhas!!! Vocês estão bem?! Aquele barco não dá! Deve ter só uns sete metros! Mas porquê que não vamos de avião?!

Gargalhada geral!
Então não é que ela pensava que as Berlengas ficavam lá para o Pacífico?!
Ai... assim vale a pena vir trabalhar!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Surprise! It´s a puppy...



Mesmo quando já não somos crianças e, por isso mesmo, já não somos tocados pela magia do Natal da mesma forma, mesmo assim, às vezes, surpreendemo-nos com alguns presentes.
Este foi... inesperado!

Tem quase dois meses, é engraçado, macio e depressa se acomodou ao colo.
Era a última coisa que precisava, porque já tenho cães em número suficiente, porque ando sem tempo, porque... Por muitos motivos!
Mas foi impossível resistir-lhe!

Claro que agora as minhas noites são ainda mais animadas.
Caminha dele ao lado da minha, a mão fora da cama para lhe fazer uma festinha quando choraminga, levantar-me de duas em duas horas, porque é esse o intervalo entre os sonos dele, levá-lo a fazer chichi e adormecê-lo de novo. Benditas noites! E eu a dizer que precisava de descansar...!
Mas é bebé... Isto depois passa! Tomara que passe depressa!

Bem fiz eu quando negociei este dia livre ( isto ainda antes do pranto e subsequente gazeta de meio da semana passada, claro!) para descansar do Natal. O primeiro em que nem sequer consegui responder a todas as sms´s recebidas.
Ai... mas sabe bem regressar à normalidade; aos horários normais; às comidas normais sem bolos-rei, sonhos, coscorões, rabanadas, broas, mexidos, - e o pior ainda é que sou eu que os faço quase todos! - ; beber mais água e menos vinho, espumante, porto; à casa bem mais vazia, ao trabalho normal i.e., à normalidade possível!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Feliz Natal!


O calendário manda. Volta-se para casa. É Natal!
E por mais que não goste das obrigações e das pressões que, sobretudo nos últimos anos, lhes sinto agregadas, gosto dele.
E mais do que gostar ou não, o que conta é que ele é importante, mesmo que, às vezes, o esqueçamos.
Seria bom que todos tivessemos um Natal calmo e aconhegante. Que seja, para todos, um FELIZ NATAL!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

O espírito de Natal visitou-me, esteve comigo umas semanas, fez-me montar a árvore de Natal, o presépio, encher a casa de velas e demais acessórios. Mas acho que me abandonou.

Ontem, depois de uma manhã em que não fiz nada que se aproveitasse, por mais que tentasse; de um almoço com alguém que, felizmente, falava pelos dois enquanto eu desviava a vista para fora do restaurente ou para o telemóvel para ir vendo as horas e as mensagens; de uma tarde ainda pior do que a manhã; parece-me óbvio que não adianta teimar.

Não adianta. Não consigo fazer um quinto do que era necessário fazer, nem consigo fazer coisas básicas. Gostava de culpar as hormonas, mas não me perece. Podia culpar o cansaço mas se calhar não é verdade... não me interessa.
Não foi difícil demonstrá-lo ao meu pai para que me desse dispensa; não foi difícil provar-lhe, de lágrimas nos olhos que não adianta ficar por cá. Não foi difícil telefonar para cima a aceitar à primeira o convite - intimação - para ir, e soluçar de saudades. Não foi difícil fazer a mala em cinco minutos - neste caso o saco de viagem. Não foi difícil telefonar à minha chefe do outro trabalho e dizer-lhe muito simplesmente, depois de dizer que estava muito constipada: Não consigo, e chorar mais e sentir o silêncio do outro lado, e depois ouvi-la chorar também, e dizer-me para ir.

Não foi difícil.
Não foi difícil pensar no meu quarto com a salamandra que a L. já acendeu esta manhã, para estar quentinho quando chegar, e no almoço - que ela insiste em chamar jantar - que vai ser a meio da tarde, que a viagem ainda demora.
Não é difícil imaginar que, desta vez, não me apetece sair de casa - dessa casa- ; que desta vez não quero saber da Franqueira, nem do Cávado, nem da Lapela e... se calhar, nem do meu sítio preferido. Não me apetece!

Lá ficam presentes para comprar e coisas inadiáveis por fazer. Mas não consigo!
Difícil vai ser voltar!

domingo, 18 de dezembro de 2005

Qual Sherlock Holmes

Sou um bocadinho distraída. Melhor, sou terrívelmente distraída. E teimosa.
Tenho algumas qualidades... pois tenho!
Ah... e ando sempre mais do que desactualizada em relação às novas tecnologias.
Pois, por causa disto - não da teimosia - este Verão apanhei um pequenino susto.

Alguém pôs as coisas no meu saco de praia. No caminho a pé da praia para casa pergunta-me pela chave do carro dele. Eu fico admirada porque não me lembrava de ter guadado chave nenhuma.

- Está no teu saco porque a pus lá!

Comecei a pensar, para mim, enquanto andava, que não tinha visto chave nenhuma lá dentro. Numa paragem rápida olho para dentro do saco numa busca básica e não vejo a maldita chave.
Entramos em casa e começo a despejar as coisas de dentro do saco: saiem as toalhas, o livro, o protector solar... os óculos de Sol do dono da chave, devidamente cheios de areias e de dedadas com creme protector e vejo a minha oportunidade de ficar sózinha naquela busca que me estava a enervar quando lhe digo para ir limpar os óculos para a casa de banho.
Despejo tudo para cima da cama enquanto pensava no pior, e no mais provável, dos cenários: que o filho pequenino de uma amiga minha tivesse mexido também na chave e a tivesse perdido na areia.
De repente, lá no fundo, muito no fundo, misturado com a areia estava um cartão estranho.

Quando ele voltava de limpar os óculos digo-lhe, a tentar disfarçar a preocupação e a imaginar já que tinhamos que voltar para a praia ao anoitecer e procurar uma chave enterrada na areia:

- Olha, estava este cartão no meu saco. É teu?

- É a chave.

Ora, para além de ter sentido um alívio enorme, aprendi uma coisa nova: há carros que trabalham com um cartão. E agora, quando vejo um, sei o que é.

É que na Sexta-feira, ao chegar ao trabalho vi um cartãozinho desses em cima da minha secretária.
Já tinha a sensação de que tinham mexido nas minhas coisas mas não tinha a certeza e, muito menos, sabia quem era. Mas andava intrigada.
A solução estava ali. Há quatro carros desses; por acaso reparei que estava apenas um no estacionamento, quando entrei. Estava resolvido o mistério.

Pego no cartão e vou à sala dele. Pouso-o sem que ele o tivesse visto, ao lado do telefone. Pergunto-lhe se precisava de alguma coisa que eu tivesse.
Ele ri-se e pergunta-me porquê.

- É que estiveste na minha sala hoje... Pensei que precisavas de alguma coisa.

- Como é que sabes? Fui o primeiro a chegar, não estava cá ninguém ainda. Ninguém te podia ter dito! És o Sherlock Holmes?!

Não sou, não. Há é pessoas muito distraídas!
Mas, a partir de Sexta o computador passou a trabalhar com password. Pois, o que ele queria ver eu até lhe teria mostrado, se me tivesse pedido, mas detesto que me mexam em três coisas: no computador, no telemóvel e na agenda.
Mas há sempre uma pista...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Os Homens

Há homens que nos consomem horas, e dias e noites, e semanas e meses com a cabeça fora do que devia, a tentar perceber o que é que queriam, realmente, dizer quando se calaram, ou quando falaram, quando riram, quando não riram...

Há homens que nos roubam a atenção, a tranquilidade, horas de sono e de trabalho, tudo para tentar adivinhar o que lhes vai na alma. Ou até só para dar uma espreitadelazinha à sua alma, mesmo que fugaz, de longe; qualquer coisa...

Há homens completos, complexos, por quem dariamos trinta voltas ao mundo só para o compreender; mesmo que um dia qualquer, de repente, percebamos que não temos que o compreender e que basta gostar. Que é mais importante gostar e que, na verdade, temos que nos contentar com isso mesmo.

Mas há outros. Ou há contextos difentes, ou qualquer coisa.
Parece-me que há os outros, aqueles que nem é preciso falarem muito, que são tão evidentes... Há os que são o contrário dos outros, que são básicos, se tornam básicos ou, simplesmente, que não despertam em nós esse interesse de querer ver o que não salta à vista.

O G., meu recente ex-colega, acabadinho de chegar de uma viagenzinha à Austália, agarra no carro e vai ter connosco lá abaixo, onde o Alentejo acaba e o Algarve começa. Nós tinhamos ido a trabalho, ele... matar saudades.

Foi uma ida rápida, ao fim do dia voltamos para casa. Fazemos um desvio absurdo para ir jantar a Évora, passeamos os cinco por ruas geladas com cheiro a lareiras a arder, subo um muro para ler umas inscrições na Sé, que não conhecia, rimos um bocado e voltamos para cima.

A certa altura começo a sentir calor, olho para a temperatura marcada e reparo que é um disparate.
Digo-lhe para baixar o ar condicionado. Ele ri e diz que não vale a pena, que tire roupa, como ele, que tinha tirado casaco e camisola e tinha só a tshirt.

Está-se muito melhor assim!, diz-me ele. Não podia estar bom da cabeça!
Como o calor era muito, estico a mão e abro um bocadinho a janela.

- Estás tonta?! Vamos constipar-nos! Fecha a janela!

- Então baixa a temperatura!

- Tira a roupa...! Tira lá! Era muito mais simpático...

- Tu não estás bem, pois não? Achas que eu ia mesmo fazer isso?!

Tirei o casaco. Mais não!
Alguns quilometros à frente, como se as coisas já não estivessem suficientemente absurdas, resolve coroar a noite.

- Estás mais gordinha, não estás?

- Como?!

- Um nadinha mais gordinha. Mais gordinha do que no Verão, não estás?

- Sim, estou.

- Bem que me perecia! Tinha reparado! É que te fica muito bem! Estás muito melhor porque a cintura continua fininha, estás é a usar o tamanho acima de soutien, não estás? Nota-se! Vê-se! Fica-te muito melhor!

- O quê?! Se não paras com essas conversas paras aqui o caro e vou com eles!

- Aqui na auto-estrada?! Está bem eu calo-me. Pronto... esquece! Mas tinha que tentar, não era? Nunca me deste importância, nem deves ter sentido saudades minhas enquanto estive na Austália.

Parou por ali. Isso parou. Aquele tipo de conversa, não o carro.
Não tive saudades, pois não. Quer dizer... até tive. Saudades da ajuda dele, do riso, da boa disposição, das conversas inteligentes (não sei para onde foram!!!), de SMS ´s patetas enviadas durante reuniões importantes, até dos olhos bonitos que tem, da amizade, da paciência... saudades de uma pessoa que não me parece esta.

Que pena!
Que pena que alguns homens se revelem assim, tão básicos, tão elementares.
Se calhar o problema está em mim. Se gostasse dele - se gostasse doutro modo - , se calhar, não teria achado inconveniente nem básico, tinha-o achado espirituoso, encantador ou qualquer outra coisa do género.
Se calhar a diferença nem está nos homens, está em nós!

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Heranças

Foram feitas arrumações no sotão e, uma das coisas que saiu do lugar foi o equipamento de mergulho do meu pai.
Parados há anos, lá estavam o fato completo, os pesos para a cintura, a espingarda submarina, vários óculos e respiradores e mais algumas coisas necessárias. Faltavam dois pares de barbatanas que essas param noutro sítio e continuam a ter muita utilização.

De repente lembrei-me de anos e anos a conviver com equipamentos destes, da preguiça do meu pai em prepará-los com antecedência, do aborrecimento da minha mãe por, depois de ter preparado tudo e de estar pronta para sair, ter de esperar que fosse trazido para baixo todo o equipamento, com vários utensílios suplentes, da ansiedade, minha e do meu irmão, à espera sentados no banco de trás do carro.

Lembrei-me de o ver vestir o fato na praia, numa tentativa de equilibrio para não entrar areia, de o ver ir mar adentro e de ficar cheia de vontade de o seguir; de ficar horas a fio de olhos postos no mar, com atenção, à espera dele e de correr para a água quando o via aparecer; de fazer questão de trazer as barbatanas e os óculos e o respirador cheia de orgulho, de - feita patetinha - agarrar o barco para tentar ajudar a tirá-lo da água, mas também de passar dias a tropeçar, literalmente, no fato a secar na casa de banho (ainda não percebo porquê que não o punha a secar noutro sítio!).

Lembrei-me de, já crescidinha, ter experimentado vestir um desses fatos, da sensação estranha de me sentir apertada e de não ter sentido grande vontade de voltar a vestir coisas assim, mesmo que o meu pai me dissesse que era essencial.

Lembro-me de, desde sempre, ter experimenrado óculos de mergulho e de tentar habituar-me aos respiradores (com grande dificuldade, diga-se em abono na verdade).

Lembro-me de crescer assim. De cada ano que passava eu ser maior em relação às barbatanas, que antes eram quase maiores do que eu.

Lembro-me de muitas coisas e são recordações boas, cheias de Sol, de calor, de dias grandes, de mar, da falta de horários para tudo (e sabem tão bem dias assim às crianças!). Recordações de dias alegres e do tempo e disponibilidade que o meu pai, no dia a dia, não tinha para nós.

Engordou um bocadito, tornou-se ainda mais ocupado, perdeu o entusiamo, a disciplina ou a paciência. Deixou-se disso.
Passou um, dois, três anos. O próximo mergulho foi sendo adiado. Entretanto, concluiu que o fato já não lhe serve. Disse-lhe para comprar outro, mas não quer. Não tem tempo, diz ele! E achou que este fato devia ter outra dona, para não acabar assim.
Heranças...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Ai, ai...

Não é um lamento. É um suspiro...
Fundo, lento, sentido...

Sabe tão bem isto; esta sensação que não tinha há meses, de calma, de descanso, de paz, de sentir as coisas no seu lugar, de ter os músculos doridos de horas a mais a cavalo, de me sentir cansada e bem disposta, do calor do Sol sem pressas, do dia tão brilhante, de me sentir livre - mesmo sendo ilusório! - e bem comigo e com o que tenho...

Claro que há coisas que não tenho que me fazem muita falta mas... é bom ter o que tenho, e usufruir de tudo isso. E espreguiçar-me, e suspirar, e deixar-me estar assim... até Segunda!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005


Sabe-me bem estar sózinha e, desde o Verão que não consigo.
Penso sempre que é só uns dias, que vou despachar o que tenho para fazer e depois ter um tempo para mim. E engano-me sempre. Depois de uma coisa, vem outra.

O tempo não é nenhum. As horas são confusas, os dias diferentes, mas sempre cheios e ocupados.
Como a horas diferentes a dias diferentes, mas de comum há sempre a pressa.
E há sempre gente à minha volta. De tipos diferentes, por motivos diferentes ... diferentes, em suma. Mas há sempre pessoas.

E há sempre telefones; fixos, móveis, com linhas ou sem linhas. Mas telefones que tocam, muito. Que se atendem na hora, que se respondem depois, ou até que se deixam tocar e a quem não se responde nunca. E mails e faxes.

Há agendas carregadas, há alterações e riscos e acrescentos. Há assentos feitos com canetas de várias cores. Sempre as alterações feitas à última da hora, normalmente sob pressão!

Há uma correria sem nexo aparente. Há cansaço, mas há também o desafio, a responsabilidade e o gosto de cumprir, e de cumprir bem.

Mas há, sobretudo, a sensação, cada vez mais forte, de que não sei para onde estou a correr, nem porquê, nem sequer se quero. Ou melhor, há a sensação de que não quero bem isto.
Sim, não quero isto. É só para deixar as coisas arrumadas, para poder ir em paz. Mas há sempre só mais uma coisinha!

Pelo menos hoje, tenho o dia para mim! Estou sózinha e o maior dos luxos parece-me esse, o de poder respirar livre, não me preocupar com as horas, com refeições, com deveres, não procurar sentidos, não me preocupar com o bem e o mal, com destinos ou vontades ou opiniões; aproveitar o Sol, o dia limpo, as árvores, os pássaros, o vento... Deixar-me estar só a olhar, parar um bocadinho e não querer saber nada.
Talvez um dia destes descubra o como, porquê, para onde, quando... mas hoje não!

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Conselhos

Resolvo - ou sou obrigada a fazer serão - e fico a trabalhar até tarde, depois de um dia cheio.
Pouco depois das nove da noite toca o telemóvel. Era a I. que precisava de falar comigo. E tinha que ser naquela altura.

- Pois I., mas é que não estou em casa. Estou a trabalhar.

- Eu vou ter contigo! Onde é que estás!

E lá vai ela!
Telefona-me quando chega e comenta que existem muitas luzes acesas naquele piso. Claro! Não sou só eu a ficar "presa" com estas coisas!
Senta-se e noto-a quase ofegante.

- Diz lá! O que é que aconteceu assim de tão importante?!

- Esqueci o A.! De vez!

Devo ter feito cara incrédula, ou coisa do género, porque ela insistiu:

- A sério! Esqueci mesmo! Não quero mais saber dele! Que alívio!

E aqui, enquanto me perguntava a mim mesma porquê que me escolhem para confidências e conselhos, logo a mim que, pelos vistos não acerto com o que devo fazer da minha própria vida e me sinto, neste momento, assim como quando somos enrolados por uma onda e ficamos um bocadinho sem saber para que lado ficam as coisas e a certificarmo-nos de que não perdemos nenhuma peça de roupa e a endireitar o cabelo, e...
Ora bolas, porquê eu?!
Sim, aqui devia ter ficado calada, mas não fiquei!

- Olha lá, I. Tu acreditas mesmo no que me estás a dizer?!
Achas que se isso fosse verdade, uma verdade consistente e duradoura, tu virias a correr contar-me isso?
Não vinhas nada!
Lembras-te de quantas vezes eu fiz isso e estava enganada?!
Quando isso acontece, quando esquecemos a sério - bom... esquecer, nunca esquecemos! - mas quando nos curamos a sério nem damos por isso! Não reparamos, não comentamos... nem sabemos! Um dia reparamos que já foi!

Ela olhava para mim com ar de quem não acreditava no que ouvia. E eu devia ter-me calado. Mas não.

- E olha que isso demora tempo. É um caminho que cada um tem de fazer por si; é penoso, é lento e não há receitas!
Sabes muito bem que sei do que estou a falar! Sabes que aprendi por mim!
Não te iludas! Não o esqueceste nada!

Realmente, se calhar não fui boa amiga. Às vezes não sei se a amizade exige verdade ou tacto. Paciência, venceu a verdade. Mas acho que, se calhar, não ajudei nada!
Ai!!! Espero que não me peçam conselhos nos próximos 500 anos!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

...

Acho que devia convencer-me que sou mesmo uma pessoa esquisita quando um amigo me telefona e diz:

- Olha lá! És tu que andas a correr aí à beira mar com os cães não és?!

- Sim... Porquê? Como é que sabes?

- Parei o carro aqui em cima e reparei que podia ser o teu cão preto e, para além disso, só tu eras capaz de ir para a beira mar com um temporal como o que está! Só podias ser tu!

Pois era. Era eu.
Mas será assim tão esquisito?
O mar estava tão bonito, e o vento com a roupa adequada, nem incomoda muito. E depois... assim, lá, parece que os problemas desaparecem, e as dúvidas, e os medos, e...

E é bom ir para casa depois, cansada e com as mãos e a cara geladas, tomar um banho quente e enroscar-me no sofá, è frente da lareira com muita lenha e beber litros de chá quentinho.
Tão bom que me apetecia ter ficado por lá! Mas enfim, se calhar, não é muito normal.

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Os outros

É muito bonito pensar nos outros.
Pensar no bem dos outros, "não fazer aos outros o que não gostavamos que nos fizessem a nós", como me repetia a toda a hora a minha Avó quando eu era pequena, e coisas que tais.
É muito nobre pôr os interesses dos outros à frente dos nossos, abdicar estóicamente da nossa vontade para não desgradar aos outros.
É muito bonito, pois é. Mas, às vezes, não é bom. E, se calhar, nem é justo.

Levei uma vida inteira assim. A pensar nos outros primeiro. A não fazer o que não lhes agradava.
Anos depois, ouvia dizerem-me: Nunca te proibi de nada! Sempre fizeste o que quizeste!
Pois foi. Nunca me proibiram nada; bastava um olhar significativo e um: Não sei se é boa ideia!
Bastava isso.

Mais tarde ainda, nem era preciso dizer nada. Às vezes adivinhava, às vezes percebia um leve semblante de desconforto e... decidia em função disso.
Decidia sempre em função dos outros. Tanto, que me parece que não foram capazes de perceber que sou uma pessoa com inteiro direito a tomar as minhas opções. Tanto que qualquer decisão que tome causa o abalo de um enorme terramoto no mundinho à minha volta.

Cansei-me que não se alegrem com o que me faz feliz, mas sim com o que julgam que seria bom para mim [ou para a pessoa que julga]. Cansei-me dos silêncios de túmulo e dos semblantes carregados quando decido por mim, sózinha. Cansei-me do desconforto de me sentir mal e culpada por coisa nenhuma para além de tentar viver a minha própria vida, de acordo com as minhas opções.
Cansei-me de me sentir, ao mesmo tempo, sózinha e sufocada!
Cansei-me! Cansei-me, mas nem por isso deixo de me sentir triste por não se alegrarem com o que me podia [ podia, apenas] fazer feliz!

Apetecia dar um murro na mesa, fazer as malas de vez, virar as costas e mudar de continente. Pensar em mim, só em mim, e esquecer!
E lembrar-me que não o fiz, há poucos anos, por causa dos outros...

sábado, 26 de novembro de 2005

Six months after

Há seis meses estava a lamuriar-me porque, afinal, tinha que começar um trabalho que, bem vistas as coisas, não queria.
Tinha concorrido só porque sim. Porque nunca me tinha sujeitado a uma prova dessas, porque ou trabalhava para a família ou em coisas que me eram oferecidas. Nunca tinha tido que me sujeitar a uma entrevista, a ver avaliado o meu curriculum e capacidades, nunca tinha competido, à séria, por um posto de trabalho. Era um desafio e... era bem pago.

Foi bom consegui-lo. Fez bem ao ego. Mas só isso.
Foi bom consegui-lo, mas não era bom ter que o fazer. Não me apetecia. Mas afinal...

Seis meses depois, as pessoas com quem não me apetecia trabalhar revelaram-se fantásticas, o ambiente de trabalho era tudo o que se pode pedir, algumas delas tornaram-se muito próximas. O que tinhamos de comum apróximava-nos, o que tinhamos de diferente - e era muito - complementáva-nos.

Durante seis meses usei e abusei da flexibilidade de horário, muitas vezes chegava às duas e meia ou três da tarde, dava meia volta, dizia que tinha de ir almoçar e descia. Mas saía já de noite, quando tudo estava em ordem.

Durante seis meses eu, criatura avessa a números, tive que aprender a avaliar projectos de investimentos, lidar com margens, com encargos fixos e variáveis, com amortizações, e com millhentas coisas relacionadas. Valeram-me o A., com a sua calma e cheio de ideias novas e simples trazidas do MBA em Gestão tirado nos E.U.A. e a dedicação do G. que lá largava a Surf Portugal, lida às escondidas, para correr para a minha sala se me sonhava com uma ligeira dificuldade.

Durante seis meses ensinei-lhes coisas que não sabiam. Afinal era por isso que nos tinham escolhido com formações diferentes.

Durante seis meses rimos como crianças irresponsáveis em reuniões importantes, por detrás de fatos adequados à ocasião. E recebemos os parabéns pelos resultados!

Durantes seis meses andámos de um lado para o outro, por aí, neste país. Para cima e para baixo, no litoral ( não conhecia bem o litoral alentejano!) e no interior. Nos mais variados transportes, em carros de topo de gama novinhos, em carroçarias de pick-ups, em moto-quatros, de tractor...
Limpinhos e arrumados ou sujos de pó e com o cabelo em desalinho ( às vezes cheio de sal, resultado de uma escapadela até ao mar).

Durante seis meses falámos com pessoas absolutamente diferentes. Deparámo-nos com um país que é muito diferente do que conhecemos à volta de Lisboa e das outras grandes cidades. Descobrimos que existem vários países dentro deste, paralelos, encostados e com diferenças abissais. Tivemos acesso a locais e a informações que nos seriam vedadas de outra forma, e aprendemos muito com isso.

Durante mais seis meses deixei a tese parada. Sem lhe mexer para nada, sem lhe dar sequer uma vista de olhos de fugida. Mas durante estes seis meses, não me senti culpada por isso.

Durante estes seis meses foram-se desenvolvendo amizades sinceras. E alguns afectos de outra natureza entre algumas pessoas.
O G., realmente um privilégio para a vista, foi-se tornando próximo. Muito próximo.
As conversas, progressivamente mais cumplices, as festas no cabelo o contacto que não sobressaltava, antes acalmava, podiam ter tomado outro rumo. Mas o coração é dono e senhor e, nestes seis meses, mandou-me sempre outra coisa.

Ao fim destes seis meses ainda tenho umas coisas - outras coisas - para fazer por lá até ao fim do ano. Eu e algumas pessoas. Mas só algumas. É tudo diferente.

Ao fim de seis meses vou fazer um trabalho, na minha área de formação, para uma SA, cujos principais accionistas foram meu colegas até ontem. E vou continuar com as outras coisas e...
Trabalho não falta, e trabalho interessante sem ser enfadonho, repetitivo ou até rigído em horário mas, não sei porquê, não me sinto satisfeita.

Seis meses depois, se calhar é ainda efeito do vinho do jantar e da vodka e do licor de wisky da noite e da minha falta de resistência ao álcool, ou da falta de horas de sono, mas sinto pena. Maldito sentimentalismo português ( e escocês!)!
Foram seis meses muito especiais! Acho que foram os seis meses em que mais aprendi na vida.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Momentos Douro


Nem devia falar nisto. Não era para aqui chamado. Mas, nestes dias, e de uma forma mais ou menos natural fui, agradavelmente ( e sem resistência), envolvida em algumas coisas. Uma delas esta.

Quem voa a bordo dos aviões da TAP e quem visita as nossas salas de cinema verá uma filmezinho simpático e muito bem feito. E é bom ver que, apesar de tudo, há coisas a serem feitas com sentido, neste país.

Só muito indirectamente o assunto me diz respeito. Bom... tiremos o "muito". Mas, realmente, rendi-me; gostei muito.
É envolvente, é bonito, é verdadeiro e tem um produto genuíno por detrás.
Portanto, vejam quando puderem, e comportem-se de acordo com esses Momentos Douro.

Entretanto também fiquei a saber que, caso o pior pesadelo - literalmente - de uma pessoa que me é muito próxima, se venha a realizar e eu me perca no Porto, existe um óptimo sítio para pedir esmola, que é a Igreja dos Congregados. Mas isso são outras estórias.

domingo, 20 de novembro de 2005

Intervalo no intervalo

Alguém me empresta um guia, bem escrito, sobre o comportamento dos homens?!
Ah... e, já agora, uma bússola para decisões, que é coisa que não existe, mas devia existir!!!

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Wine break

Por causa do vinho vou estar um bocadinho ausente. Já estou. Desde ontem.

Não é que tenha bebido muito e que precise de uns dias para me recompor. Até bebo pouco; provo mais do que bebo. Mas são apresentações, colóquios, visitas, lançamentos... Será assim até quinta-feira.

Estou ocupada e envolvida - algumas destas coisas, deixadas à minha responsabilidade, dão-me umas rotações a mais. Vistas as coisas ando ocupada, envolvida, empenhada e acelerada.

Está assim explicada a ausência!
Pena... por acaso até podia escrever imensas coisas. Tinha muita vontade... mas não tenho mesmo tempo!
Até breve!

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Homenagem ao meu telemóvel

O meu telemóvel, coitado, tem sido um companheiro inestimável. Mas, mais do que isso, admiro-lhe a resistência que tem demonstrado às más condições de vida a que o sujeito.

Aguenta areia - deitada por cima dele ou atirado contra ela - aguenta ser manipulado com as mãos molhadas de água salgada, Sol, umas gotas de chuva, uma noite esquecido à beira da piscina, ser barrado de Nivea pelo Tiaguinho, ser lambido pela minha égua, que me sente em cima dele de vez em quando, as quedas normais e frequentes, servir de brinquedo aos gatos e... até ser atirado com toda a força contra o vidro da frente da carrinha - o vidro também se revelou muito bom! - e sofrer o mesmo da janela do meu quarto - valeram-lhe as florzinhas do jardim!

Coitado! Acho que está na hora de ser substituído por um com mais funções (mesmo sabendo que nunca vou consegui depois tirar partido delas!). Mas reconheço que me tem servido muito bem!

terça-feira, 15 de novembro de 2005

Alívio

Alívio, foi passar ontem , já de noite, pela clínica para dar um beijinho de fugida ao meu avô, e vê-lo bem e a sorrir para mim.

Alívio por, apesar de ter tido a sensatez de não me afastar muito da área na altura em que lhe foi marcada uma operação, não ter tido tempo para estar com ele na véspera ou até de lhe falar mais do que dois minutos por telemóvel, em cima da hora, para lhe mandar um beijinho- ou por ter falta de coragem para enfrentar questões relacionadas com doenças e intervenções, que me fazem acordar para a condição de mortais das pessoas de quem gosto - mas ter a certeza que tudo correu bem, que ele está satisfeito, que daqui a poucos dias é o mesmo.

Alívio, é ter cumprido aquilo que era mesmo obrigatório fazer hoje - que dia! E não ter que falar com mais ninguém sobre trabalho, até amanhã (espero eu!!!).
É chegar ao fim do dia e ansiar pela noite. Por si mesma - não se ponham a imaginar coisas !
E de tão cansada, conseguir não estar a pensar em todas as coisas que estão escritas na minha agenda para esta semana que se me afigura longa.

Alívio é... sentir que tenho o direito de não pensar em mais nada hoje. Tomar um banho, comer o jantarinho que está preparado para mim e deixar-me ficar quietinha, que é disso que preciso, de um bocadinho de sossego e de sentir que, apesar dos últimos dias, tudo está no mesmo lugar, que o mundo gira à mesma velocidade, no mesmo sentido. É que, de vez em quando, quando acontecem muitas coisas à minha volta, sinto-me sair de orbita, involuntáriamente, e faz-me falta voltar.
Alívio, mesmo, é ver o Sol a pôr-se!

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Post fútil

Sim, fútil! Perfeitamente fútil!
O máximo que é possível ser! E também disparatado! Que, às vezes, é bom não levar as coisas a sério e rir um bocadinho!

Chego tarde, como sempre - é necessário aproveitar a dada flexibilidade - e reparo em cinco Meganes, cinzentos, alinhados no estacionamento. Iguaizinhos; a única diferença está no último algarismo da matrícula, que é, ainda assim, sequêncial.

Subo curiosa e pergunto o que era aquilo. Respondem que eram para cinco engenheiros que vinham trabalhar. Dou-me por satisfeita.

Mais tarde vi os tais engenheiros sairem da sala de reuniões.
Pois... - aqui vem a parte fútil! - meninas! Ah pois, que este post é só para meninas!
Os engenheirinhos são tão giros! Os cinco! E até são simpáticos!

Bom... não é que esteja interessada, mas lá que é agradável à vista, é!
É verdade que há alguma agitação nos elementos femininos que se riem muito mais e andam de um lado para o outro, e algum mau humor em alguns dos elementos masculinos já instalados, mas isso não tem importância nenhuma.

A A., principal responsável pelo recrutamento, disse quando viemos trabalhar que a escolha era feita a dedo. Não imagino qual foi o critério de que se serviu desta vez, mas não dúvido de que foram escolhidos a dedo!

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Natal

Não, não sou daquelas pessoas que decoram a casa para o Natal com muita antecedência. Na verdade, sou mais o contrário.

Só gosto de ver motivos natalícios quando o frio se instala. Para mim tem de haver uma sequência. Gosto de aproveitar o Outono. Gosto dos fins de tarde com luz dourada, gosto do mar com um azul mais forte, das folhas amarelas caídas no chão, das romãs, das castanhas, dos primeiros dias de lareira acesa; das roupas mais quentes, dos casacos, até de começar a usar cachecóis e de sentir o ar frio na cara.

Não tenho pressa em fazer apagar o Outono, em saltar do Verão para o Natal. Mas agora, levada pelo frio ou pela pressão das lojas, começo a ceder. Começo a olhar com agrado para as decorações de Natal que nos saltam à vista em tantas lojas.
Cedi, e comprei um pinheiro artíficial. Achei-o bonito, e achei que também não me agradava ter em casa um árvore morta. Mais nenhum pinheiro será cortado para ir para a minha casa.

Cheguei a casa e arrastei a caixa para o sotão.
É bonito, mas vai ficar à espera. Vai esperar pela data certa. Manda a tradição que, cá em casa, se prepare a decoração de Natal no dia 1 de Dezembro ou no dia 8. E assim será.

Nessa altura o pinheiro descerá e será montado. Juntamente com os enfeites normais terá os laços de tartan para termos a Escócia presente.
E o presépio, que passou por várias gerações, será, como sempre, o de Barcelos.
Acho que é isso que mais gosto no Natal, por detrás de todas as luzes e todos os enfeites, está lá tudo: a origem, o essêncial, o sinal de quem somos e de onde viemos: os laços da Escócia e o presépio de Barcelos. E é isso que está sempre presente, estando onde estiver, que me molda e que me ajuda, quando me sinto sem referências.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Domingo # 3






Domingo: ... em imagens! Dá menos trabalho.

Segunda: Sair de manhã rumo ao Sul; quando era suposto estar a Norte. E sentir... não sei o quê, com isso. Não saber se queria ir, ou ficar, ou ir. Mas ir! Depressa, como sempre.
Os portáteis, os papéis, os quatro do costume ( e uma prancha de surf à vista do Sr. Presidente!), o Sol, o dia claro, o frio, as estufas, os gráficos, os números, a reunião e, o inevitável mar. A noite com direito a lareira, pela primeira vez no ano.

Terça: O acordar tardio, o pequeno-almoço preguiçoso mas nostálgico, a viagem de regresso. Pisar a Vasco da Gama, ver Lisboa, achá-la linda, como sempre, mas não ter vontade de lá chegar. Fazer o relatório a quatro mãos. Lembrarem-me que no fim do mês acaba este trabalho; que eu vou continuar mais algum tempo, mas que a maioria não vai; e que as coisas vão ser diferentes. Sentir saudades antecipadas. O dia cinzento, a chuvinha, a vontade que chegue a noite depressa e de acender a lareira, desta vez, em casa.

sábado, 5 de novembro de 2005

Defesas



O tipo tem alguma capacidade para subverter a realidade. Está a jogar com o efeito espelho. Diz-me que sou como ele para me desviar a atenção. Isto agrada-me, apesar de me assustar um bocadinho.

- Está enganada. Já vi que gosta de fazer juízos precipitados, esse é o primeiro passo para errar. Pelo contrário, sou um solitário. Considero que a amizade é um bem demasiado precioso para se dar a qualquer pessoa. Não falo da minha vida com pessoas a não ser que elas mereçam a minha total confiança. A confiança é como a intimidade, demora anos a cimentar e a fortalecer e pode cair por terra com uma única indiscrisção. Já o mesmo não deve acontecer consigo. Deve ser do género de ter muitos amigos, ser muito popular. Vê-se logo que gosta de seduzir, conquistar, usar e depois, quando está farta, desembainha a espada e corta a cabeça a um pobre mortal sem dó nem piedade.

Fico calada, sem saber o que responder. Se eu lhe dou troco, estou a dar-lhe crédito e a admitir que tem razão. Mas o pior é que ele tem mesmo. Cortei a cabeça ao Tiago numa conversa de cinco minutos e agora só me quero ver livre dele. Um dia destes farto-me de ter um caso com o Luís e corto-lhe a cabeça com a mesma facilidade. Já fiz isto demasiadas vezes a demasiados homens na minha vida. É evidente que está a fazer bluff, mas como todos os grandes jogadores, ele sabe que o bluff é uma táctica falível mas indispensável em qualquer jogo. E desta vez acertou.

- E você, nunca cortou a cabeça a ninguém?

- Não. Só quando pressinto que vão tentar cortar a minha. Nessa altura antecipo-me. Mas é um reflexo normal, não acha?

- E já lhe cortaram a cabeça?

- Claro que sim. Aprendi à minha custa. Doeu um bocado, mas desenvolvi algum poder de antecipação.

- Para quê?

- Para cortar a do adversário. (*)


Ando a ler o que me atiram para a frente.
Este livro... não seria minha companhia por minha escolha.
É daqueles em que tentamos, a todo o custo, não encontrar afinidades com as personagens. Antes o contrário, procuro demarcar-me.

Não tenho nada a ver com a protagonista! Nada! Seja no que fôr!
A única semelhança é que a faculdade onde ela teria estudado, é a minha.

Mas uma coisa é certa, e deixou-me a pensar: eu corto cabeças.
Cortei ao V. porque não gostava dele; tinha de ser.
Mas cortei mais. Por outros motivos. Porque na eminência de um desfecho preferi antecipar-me e ser eu a cortar a cabeça. Dói menos!

Num outro caso, não cortei sózinha. Nesse caso conseguimos cortar os dois, ao mesmo tempo. Acho até, que cortámos a cabeça a nós próprios, em simultâneo. Aqueles anos de cumplicidades deram os seus frutos; tinha de ser em simultâneo!

E não consigo deixar de ter isto presente. O medo de sofrer leva-me sempre, a dar um passo à frente, a desembainhar a espada e, num golpe rápido e seco, de olhos fechados, cortar uma cabeça. E a ficar a chorar depois. Porque se sofre, na mesma! Mas eu quero acreditar que dói menos assim! Preciso de acreditar!

Se tenho a certeza, que é isso que me espera, que a minha cabeça vai ser cortada, então, sustenho a respiração e antecipo-me!


(*) Margarida Rebelo Pinto, Não há coincidência, Lisboa, 2000, pp. 54-55


quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Uma questão de confiança

Cerca de 80% das vezes que ouço tocar o telemóvel de uma amiga recente, é o namorado dela. Com uma questão rápida e simples: Onde é que estás?

Uma sms pareceu esgotar-lhe a paciência. O texto dizia: Não consigo confiar numa mulher de quem não sei de metade dos sítios onde vai nem com metade das pessoas com que está.

Sei bem que ele não tem a mínima razão para inseguranças, e também sei que ele sabe muitíssimo de cada passo da vida dela.
Sabe o segundo em que vai trabalhar, o segundo em que sai, o segundo em que entra em casa... Ela informa-o de tudo. São telefonemas e telefonemas diários, apenas com informações destas.

Custou-me vê-la assim. Cansada, já sem saber o que fazer mais.
Bem sei que é verdade que este trabalho nos obriga a sair muito, que falamos com muita gente, que muitos de nós o começámos um bocadinho descrentes e que agora gostamos muito do que fazemos, que esta manhã saí a pensar que ia para Alcobaça e que, afinal, fui para o Bombarral, que foi levantada a possibilidade de ser necessário ir a Silves, que almocei num sítio inesperado e que à tarde estava, afinal, ainda noutro local diferente. E é verdade que eu gosto disso e que ela também. Mas ele não tem qualquer razão para inseguranças.

Disse-lhe que se ele soubesse tudo, mas mesmo tudo o que ela faz, também não confiava nela. Sabia o que fazia, mas não confiava.
Confiar não é saber tudo o que a outra pessoa faz. É precisamente o contrário. É não saber, não fazer a mínima ideia e, mesmo assim, acreditar que não estará a fazer nada que nos atinja.

Confiar, é não saber, mas acreditar no outro; assim como gostar não é compreender.
Durante muito tempo também eu não reparei nestas nuances. Também eu procurei controlar e analisar ao milímetro as pessoas de quem gostava mais.

Hoje não o faço. Mas é um hoje muito recente. Muito recente mesmo. Na verdade, só hoje percebi a alteração e até acho que consigo datá-la. Mas ainda bem que aconteceu! Porque sou eu quem mais ganha com isso!

domingo, 30 de outubro de 2005

Oportunidades

Foi a última fotografia que tirei em Milão. Não por achar que valia a pena guardá-la, não que achasse o enquadramento bonito, não que partisse com saudades antecipadas.
Tirei porque sim. Em jeito de conclusão; para a guardar junto com as outras, e os bilhetes do Scala, e dos transportes, alguns tickets de restaurantes, sacos de livrarias, o panfleto do hotel... enfim, o costume!
Para ter a certeza que marcava mesmo o fim da viagem.

Fui porque sim, Não porque queria.
Uma viagem bem ao jeito da C. e da S.
E lá fomos; elas, eu e a J., as quatro. Porque sim!

Lembro-me da chuvinha miúdinha e persitente que nos acompanhou sempre, das galerias Victor Emanuel, da catedral esmagadora, das cadeiras de veludo vermelho do Scala (que imaginava mais grandioso), das muitas livrarias, de alguns restaurantes, de uma cidade enorme e cinzenta, de gente apressada, do trânsito caótico, de muitas lojas de roupa caríssimas e das obrigatórias compras; dos montes de sacos, da bagagem a mais, do quarto de que não gostava.
Lembro-me, depois, do único susto que apanhei com um avião.

Lembro-me, agora que penso nisso, da visita a Santa Maria delle Grazie. Do encerado verde, da camisola de lã, da mochila às costas, e do enfado de quem cumpre quase uma obrigação numa cidade que não me agradava.
Lembro-me dos montes e montes de turistas que os funcionários tentavam ordenar. Tudo para ver o fresco da Última Ceia, pintado pelo Leonardo Da Vinci.
Olhei... e pronto. Estava lá. Um fresco bonitinho (aprendi nesse dia a diferença entre um fresco e um mural). Já podia dizer, numa ocasião que se mostrasse indicada, que sim, que o tinha visto ao vivo, que tinha estado lá. Já estava!

Isto vem tudo para aqui porque a minha companhia principal neste fim-de-semana tem sido o Código Da Vinci.
Livro que não li quando toda a gente o leu, porque sou teimosa. Porque não ia ler um livro que todos andavam a ler!
Estou a ler agora porque mo emprestaram, sem que o tivesse pedido, e... achei que devia lê-lo antes de o devolver.

E agora tenho pena de não ter aproveitado, de não ter olhado para as coisas com olhos de ver. De não ter reparado no que estava lá pintado, nas caras, nas mãos, nas expessões. Independementemente da minha opinião acerca da questão tratada.
Por mais que não me agrade admitir, foi uma viagem de meninas mimadas e um comportamento de menina mimada, que se enfada com o que tem e vira a cara às coisas sem sequer parar para ver o que tem à frente do nariz.

Não tenho a mínina intenção de lá voltar. Mas fiquei a pensar em quantas coisas, mais ou menos importantes - mas evidentes - passam à frente dos nossos olhos e nós nem nos damos ao trabalho de olhar para elas. Às vezes, simplesmente, porque estamos assim um bocadinho enfadadas. É que, às vezes, e em algumas coisas nesta vida, podemos não ter uma segunda oportunidade...

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

T

T: de Tiago, ou de Tiaguinho! O nome do filho pequenino de uma das minhas melhores amigas.
De um bebé reguila, ou menino doce: nunca sei bem o que chamar às crianças entre o 1º e o 2º aniversário. Da criaturinha que trouxe ontem para casa e que se cola a mim. Que me obriga a andar de acordo com os horários dele, a trocar fraldas, a preocupar-me com as suas refeições e a arranjar biberons.
Que me faz rir, e me suja a roupa por andar sempre a querer subir para o meu colo. Que não me deixou trabalhar grande coisa hoje porque não aceita outros colos.

T: de telemóvel. E de como percebi hoje o quanto me faz falta, e dos números indispensáveis que tenho gravados apenas no cartão. Isto tudo porque não suspeitei que uma criança silênciosa possa estar a fazer qualquer coisa tão perfeita como cobrir muito bem todas as partes do telemóvel com creme Nivea.

T: de tempo. Ou da falta dele. Da falta dele para trabalhar, para falar com algumas pessoas, para visitar blogs ou qualquer outra coisa que não seja manter o primeiroT debaixo de olho, brincar com ele (ou tê-lo ao colo, como é o caso!). Isto é :T de tempo bem passado!

terça-feira, 25 de outubro de 2005

(Des)contextos

Na noite de Sábado - a da festa - saí de lá, eu e uma amiga, com o objectivo de, finalmente, regressar a casa e à minha caminha. Para mim, oito horas lá eram o bastante. Para a maioria das pessoas também. Mas alguns resistentes seguiram outros rumos.

Um amigo/colega de trabalho (ou na ordem inversa. não sei bem) também lá estava. Ele e outro colega nosso.
No caminho de regresso toca o telemóvel. Olho para o ecrã e vejo que era ele.

- Mas onde é que andas?! Volta já para trás!

Nem pensar! Estava cansada, queria mesmo ir embora.

-Traidora! Volta já!!! Estás a ouvir?

Pois sim. Claro que não voltava. Entretanto eu ria e a minha amiga também. Áquela hora já se ri de qualquer coisa.

- Se não voltas nunca mais te falo! E nunca mais te ajudo! Nunca mais, ouviste?! Tanto me faz que gostes de números como não! Vais ver...!

-Ai é?! Está bem! Então eu vou contar que tu lês a Surf Portugal em horário de trabalho! Adeus! Até amanhã! Beijinhos!

-Beijinhos?! Beijinhos?! Não te dou beijinhos nenhuns!!! Nem eu, nem ninguém aqui!!!

E desliga-me o telefone na cara. Continuamos a rir, que a noite não estava para outra coisa.
Minutos depois toca o telefone. O mesmo número.

-Sim? O que é que queres? Ah, já sei! É para me dares os beijinhos. Até amanhã!

Mas do outro lado:

- Beijinhos??? Quais beijinhos??? Ah! Vocês...

Tinha passado o telefone ao nosso colega para que ele tentasse convencer-me a voltar para trás. E, claro, a este a conversa dos beijinhos, fora de contexto, pareceu estranha. Tão estranha, que continua a ver as coisas fora do contexto.

Mesmo fora do contexto. Ele mais algumas pessoas a quem, óbviamente, contou a sua versão da história. E lá entra em acção uma brigada a tentar dar "um empurrãozinho". Mas eu não quero "empurrãozinho" nenhum.

E lá se tornou impossível trabalhar com o G., e lá dou um salto para trás de cada vez que ele vai para me passar a mão pelo cabelo ou pelo braço, e lá o evito (dentro do possível), e... não estou a gostar nada disto!

Já ele, parece que gosta. Depois de lhe ter segurado no braço e de lhe dizer que achava desnecessário que me fizesse festas no cabelo. Ele riu e disse que era melhor falarmos. E falámos.
Conclusão de quase duas horas de conversa no parque de estacionamento: Eu não quero. Não posso! Ele termina com um sussurrado: Mas podiamos... Podiamos, Margarida...
Eis como, sem nem saber muito bem como, o trabalho se torna, num ápice, insuportável e se perde um amigo.

sábado, 22 de outubro de 2005

Fim de Semana

Já nem me lembrava bem o que isso era. Depois destas semanas...
Agora as referências começam a voltar, ténues e devagarinho. Mas a voltar.

Coisas boas: chegar a casa, ontem ao fim do dia, e tê-la só para mim. Tomar um banho quente, vestir o pijama e, apesar de trabalhar à noite, fazê-lo ao ritmo que me apeteceu.
Adormecer nas águas-furtadas, ter consciência disso, e deixar-me ficar lá. Acordar sem despertador, tomar um pequeno-almoço demorado, ter o telefone desligado, não haver barulhos nem pessoas em casa, fazer biscoitos e dedicar-me à preguiça.

O fim de dia será bem menos calmo! Uma festa irrecusável (apesar de me apetecer recusar), sabendo, no entanto, que me vou divertir muito! E também estava a precisar disto!

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Primas

Li há algum tempo, nalgum sítio, que primo era o grau de parentesco mais confortável.
Não se escolhem pais, nem filhos, nem irmãos, nem avós, nem sequer tios. Mas os primos escolhem-se. São nossos primos quem nós quisermos, ou quase.

Quando não gostamos da pessoa em causa ignoramos uma origem comum. Fingimos que não sabemos e, de tanto fingirmos, chegamos a acreditar nisso.
O contrário também é verdade. Às vezes somos assaltados por uma muito provável origem comum e, no caso de sentirmos afinidades, lá ganhamos primos.

Algumas dessas vezes lá nos damos ao trabalho de verificar a veracidade desse origem e a família cresce, une-se, toma jeitos de clã, com encontros, almoços, cumplicidades e inter-ajudas. E lá se passeia ao colo a priminha pequena, em 15º grau, que herdou o nome da minha 27ª avó (28ª dela), nas margens do Cávado.
Outras vezes não nos damos a esse trabalho, mas criam-se laços na mesma.

Ontem respondi a um mail de uma prima destas. Noutros tempos teria sido uma carta. Teria outro encanto, mas o efeito é o mesmo.
Primas, mulheres, com idades próximas, com algumas afinidades.
Uma prima faz muita falta. Tem o distanciamento necessário, e a próximidade que precisamos. Faz falta para nos perguntar o que vai acontecendo na nossa vida, faz falta para podermos contar isso a alguém e, à custa disso, tentar ordenar ideias, respirar fundo, ganhar calma. Faz falta, e faz bem.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

O anel do meu dedo

Quando foi decidido que teria o meu próprio cavalo ficou decidido que seria uma égua. Um animal calmo, de passeio. Era isso que queria. Depois da adolescência e da sede de emoções fortes era a altura de começar a apreciar a calma e a segurança.

A pessoa que tinha esta que hoje tenho disse-me: É um anel para o seu dedo! Nenhum, mesmo que feito de encomenda, lhe assentará tão bem!

E foi assim mesmo. Amor à primeira vista!
Ela não é baixa, nem calma, nem de passeio. Não é Lusitana nem submissa. É Puro Sangue Inglês, de desporto, altíssima, veloz como o vento, senhora do seu nariz, adormece tarde e dorme toda a manhã. Amiga inseparável; cúmplice.
Quando estou longe é dela que sinto a falta.

Um dia, teimei com ela. Forcei-a. Usei a chibata. Ela não queria andar mais e eu obriguei-a.
Sabia muito bem que estava a força-la, a usar a força. A páginas tantas ela atira-me ao chão.
Consegui soltar os pés dos estribos e senti-me a ser projectada pelo ar. Na queda tive tempo de pensar no que me estava a acontecer; tive a sensação que nunca mais tocava no chão. Uma curiosidade estranha aquela que senti. Sabia bem o perigo que estava a correr.

Finalmente aterrei com as costas no chão. O corpo estendido.
Pareceu-me que tinha passado uma eternidade desde que tinha saltado de cima dela. Abri os olhos e vi a luz do Sol por entre as copas fechadas dos carvalhos.
Não sentia nada nem ouvia nada. Achei que tinha morrido. E não me importei com isso.

Depois percebi que não. Percebi que tinha tido muita sorte e que tinha caído tão bem que não me tinha magoado (na verdade, umas horas depois, estava um bocadinho dorida; mas só isso). Percebi que estava viva. Não me senti aliviada com a constatação. Podia estar morta ou viva. Estava viva, ponto final.

Hoje, quase dois anos depois, ao pensar nisso reparo que podia tirar muitas conclusões.
Podia concluir que não podemos cair na tentação de sujeitar quem gostamos; que mesmo as criaturas que, incontestávelmente, gostam de nós nos podem magoar; ou, simplesmente, que não morremos quando achamos que sim.

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Boa ideia!

Boa ideia foi não ter ido trabalhar hoje.
Melhor ideia teria sido ficar por casa. Mas pelo menos resolvi algumas coisinhas pendentes.
E outra boa ideia é ir dormir!Isso sim, e agora!

domingo, 9 de outubro de 2005

4º Semana


Este é o quinto vinho deste ano, aos cinco dias, de viagem da cuba onde nasceu para aquela onde está agora. Depois dele já existem mais três, em diferentes fases. Faltam ainda mais dois.
Já não os conheço bem, já não tenho a idade deles de memória, não me perguntem graus, nem castas, nem coisa nenhuma.

Conheço os primeiros cinco, como me conheço a mim, ou melhor. Melhor, com toda a certeza!
São criaturas minhas. Lembro-me de tudo; o dia em que as uvas chegaram, as horas, ao que sabiam, o grau que tinham, a temperatura. Sei para que cubas foram, sei quantos litros deram, sei quando começaram a dar os primeiros sinais de vida. Sei quando cada um deles começou a ficar morno e a mexer. Sei qual foi o mais rápido, o mais agitado, o mais barulhento - são como as pessoas, cada um com a sua personalidade.
Sei para onde foram mudados, ao fim de quantos dias; conheço as mudanças por que ainda estão a passar. Ainda vou à adega para encostar o ouvido e ouvir os barulhinhos, cada vez mais baixos, que ainda fazem. Ainda passo a mão nas cubas mornas como para afagá-los.
Gosto deles.

Dos outros não me perguntem. São números, valores, parâmetros. São quadros num ecrã.
Sei o que houver a necessidade de saber. Quando há a necessidade. Há análises e medições, há registos.
Se calhar porque não estava cá quando entraram ( e continuo a não estar em permanência); se calhar porque estou cansada; se calhar porque a capacidade para se gostar não é, afinal, ilimitada.

E pronto, depois de uma primeira semana calminha e destas três alucinantes, entre vindimas e viagens, e sem poder distinguir os dias úteis dos fins de semana, estou cansada. Deixei de ter a capacidade para me enternecer com os vinhos novos, deixei até de ter interesse em saber mais do que o que é objectivo e necessário.
Não é que não ande bem disposta, porque até ando - realmente, não me lembro de me sentir triste um único instante, durante este tempo - mas estou esgotada. Porque não se consegue agarrar o mundo todo de uma vez. Só por isso.

Bem sei que esta semana ainda não vai ser tranquila por aqui e que, ainda por cima, até vou ter de sair, mas agora queria só a minha caminha. Mais nada!

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Deveres


- Temos que falar Margarida. Há umas viagenzinhas que vamos ter que marcar. É tudo um bocadinho concentrado, mas tem que ser. Compreende, não compreende? É que precisamos mesmo.

Se calhar não devia compreender nada. E devia importar-me. Pois devia.
Ainda por cima assim, com pouco tempo de antecedência.
Mas não me importo. Não me importo nada.

Depois de os ter levado a mexer na programação do trabalho de 17 pessoas porque tinha que faltar uns dias para a vindima, e de terem feito por causa disso, alterações que me libertaram uma semana inteirinha sem faltas (é verdade que eu precisava de, pelo menos, cinco semanas, mas...); depois de lhes ter dito que ia faltar mais uns dois dias lá mais para o fim do mês e de me dizerem que então iam ver o que podiam fazer, que talvez desse para não considerar faltas... não posso resmungar muito.
Não posso, nem quero! Posso até fingir que estou a ser boazinha, que me disponho a fazer o sacrifício, mas só porque tenho boa vontade. Até posso, mas é mentira. Não me importo nada!

Se há coisa que percebi nos dias que passei lá por baixo foi que gostava de fazer sempre esse tipo de trabalho.
Pode ser cansativo, pode exigir tempo, flexibilidade e até algum tacto.
Mas não é monótono.

Agrada-me mudar de sítio, ir onde não conheço e, melhor ainda, ir onde quase ninguém conhece. Agrada-me falar com pessoas tão diferentes. Agrada-me andar de um lado para o outro, perdermo-nos de vez em quando e rir à conta disso.
Agrada-me, acima de tudo, a sensação de liberdade - ilusória, eu sei. Não estar presa a uma secretária e a uma sala, fazer quilómetros e quilómetros, nos mais variados sentidos, nos mais variados pisos, e até nos mais variados meios de transporte (as moto-quatro em ravinas continuam a assustar-me um bocadinho mas... chegam a lugares fantásticos!). A sensação de estar a descobrir o mundo e, ao mesmo tempo, fora dele. Não ouvir as notícias a não ser de passagem numa qualquer área de serviço de uma auto-estrada. Estar fora.

E chegam à memória as imagens ainda frescas dos bocadinhos de costa alentejana sem casas e sem caminhos e do quanto custou, em alguns casos, descer as falésias para chegar ao mar (sim, não esperem que eu passe perto do mar e fique só a olhar!), e das viagens nas carroçarias das pickups que nos arranjaram a apanhar vento e pó e a rir como tolinhos, e de ter perdido o portátil e de o ter reencontrado, e das roupas sujas e dos almoços fantásticos e de ter falado mais inglês do que português (país estranho este!) e de cair numa cama, à noite, e dormir como uma pedra. E de me ter descoberto mais auto-suficiente!

Pois... eu compreendo. Tem mesmo que ser! Mas só porque sou muito boazinha!

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Filha do Mar


Não, não é de mim que estou a falar; nem tão pouco a pensar. Não mesmo.
No meio da vertigem que tem sido a minha vida nos últimos tempos, não resisti e ofereci a mim mesma uma passagem pelo praia ao fim de um dia cheio.

Chegar lá, inspirar profundamente, descer as escadas, tirar os sapatos, fincar os pés na areia para a sentir bem, avançar até a sentir molhada e mais um bocadinho até deixar o mar tocar-me os pés - não está fria - fechar os olhos e ficar ali a ouvi-lo e a senti-lo. Se fosse mais cedo... se tivesse ali um biquini... mas não dava; hoje não.

Não precisava de mais nada.
Gosto dele manso ou bravo, no Verão ou no Inverno, frio ou menos frio, azul, verde ou cinzento.
Sou daquelas pessoas que acha que ele não separa: une!
Preciso dele como de oxigénio. Nada menos.

Leva-me os problemas, enche-me a alma, dá-me paz, diverte-me com as ondas ( apesar de dois ou três sustos, é certo), equilibra-me.
Lembrei-me de uma telenovela, que nem costumava ver (há vários anos que perdi esse hábito). Não da telenovela, mas do título que achava lindo: Filha do Mar.
Demasiado bonito para uma telenovela, sempre achei. E continuo a achar.

Fiquei embalada pelo som das ondas e nem sei mais porquê, a pensar que alguém pode nascer assim: filha do mar.
Não eu! Mas alguém pode nascer assim, com uma ligação muito mais forte; verdadeiramente forte, umbilical. E viver desse modo.
É que hoje estou assim, com a alma cheia, sem pedir mais nada da vida!



Eu sei que é um post estranho. Faz parte daquela fase de "irracionalidades", para a qual já tinha deixado aviso.

sábado, 1 de outubro de 2005

Vida

Há coisas que nos marcam. Que influênciam a forma como encaramos o que nos rodeia. Algumas são simples. Mas, ainda assim, difíceis de partilhar.

Ando ocupada com a vindima. Embrenhada é o termo mais exacto.
Levo o tempo à volta destas coisas. Desde que me levanto até que me deito. Não sei o que se passa pelo mundo. Não imagino sequer. Não sei se há mais tufões, se há mais desemprego, se o petróleo subiu novamente...
O meu mundo é outro agora: as uvas, o vinho.

Não tenho tempo para ir às vinhas (com muita pena minha) mas acompanho as uvas desde que chegam às adegas.
Vejo-as, "roubo" bagos aqui e ali, meço o grau de açucares.
Acompanha-as enquanto são esmagadas, asseguro-me que não seguem folhas ou uvas em mau estado.
Transformam-se em sumo. Doce, de cor quente, que corre formando um caudal forte para dentro as cubas. Bebo-o e sorrio sempre. Como quem sorri a uma criança pequena.

Vou andando à volta das cubas ansiosa por detectar sinais de vida. De vida, sim. É sabido que o vinho é um organismo vivo. Aqui começa a gestação dele.
Prefiro tocar-lhe, em vez de usar o termómetro, para perceber quando a temperatura começa a elevar-se um bocadinho. E olho uma vez, e outra, e outra... até perceber um indício de um movimento leve.
Então, nalgum momento, isso acontece: a temperatura sobe, ele mexe-se. E a temperatura sobe mais e ele mexe-se mais. Fica quente; quente como a cor que tem. E ouve-se, num som surdo, profundo, vindo lá das origens dos tempos.
E durante uns dias mexe-se, dá saltos, borbulha, ruge num som abafado mas forte, grave e tumultuoso, expulsa de si tudo o que não lhe pertence, define cor, altera os cheiros, define-se, diferencia-se: nasce!

A mim, cabe-me acompanhá-lo, assegurar que as condições não lhe faltam, que tem oxigénio suficiente, que a temperatura não sobe demais e até que não há barulhos a incomodá-lo.
E disfrutar do seu crescimento. Inquietar-me quando não se comporta como era esperado, emocionar-me com a sua evolução, tocar-lhe e sentir o seu calor, ficar em silêncio a ouvi-lo, enternecer-me e sorrir quando nos surpreende, quando vence mais uma etapa e chegar a chorar de orgulho por ele, por essa vida nova que está um bocadinho dependente de mim.
Passados uns dias tudo acalmará, seguirá sózinho, deixará de ser mosto para ser vinho. Nessa altura será ele a seguir o seu próprio caminho, independente, senhor de si. Por agora está aqui, nas minhas mãos, a nascer.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Áreas de Serviço

Desde pequena que me lembro de ouvir dizer: Cada maluco com a sua mania!
Era sempre dito com a naturalidade de quem reconhece que, malucos, somos todos um bocadinho. Quem é que não tem uma ou outra mania?!

Mas eu tenho várias!
Uma delas é, francamente, estranha. Gosto de áreas de serviço. Sim, de áreas de serviço, das autoestradas.

Desenvolvi esse gosto quando comecei a gostar de aeroportos; que o mesmo é dizer que foi quando comecei a gostar de viajar, porque de aviões, propriamente ditos, não gosto.
Ora, à falta de idas e vindas de aeroportos, sempre existe aquilo que, a mim, me surge como o substituto mais próximo: as áreas de serviço.
Não gosto da comida. Nada!
Mas até nisso me lembra um aeroporto. É que a comida de avião, enfim...
Mas agradam-me outras coisas.

Depois de oito horas sem comer até me pareceu uma boa ideia as almôndegas mornas com esparguete cozido há horas.
Apercebi-me muito por alto da conversa da S. acerca da festa de anos dela (à qual não posso faltar!), do riso do P. a cada palavra dela e dos pontapés que o L. me deu por baixo da mesa por perceber que estava noutra dimensão. E estava mesmo.

Estava num sítio fora das referências normais.
Não pertence a lugar nenhum. Não é destino de ninguém.
Ninguém lá permanece, toda a gente está de passagem. Ninguém pertence lá.
Cada uma das pessoas que lá estão tem histórias diferentes, destinos diferentes, origens diferentes. De comum apenas existe o facto de coincidirem ali, num momento mais efémero do que qualquer momento, por defininção, forçosamente é.
Todos estão a ir ou a vir de algum lado.

Estava distraída a tentar perceber que tipo de pessoas lá estavam.
Um casal de estrangeiros de meia idade, talvez holandeses; um homem novo, sózinho, com ar de quem se sentia asfixiado mas não pela gravata que usava; cinco espanhóis barulhentos como é normal, turistas evidentemente; um casal novo com uma pequenita de caracóis largos, já quase adormecida encostada à mãe; e um outro casal com ar de quem não queria continuar viagem nenhuma em conjunto.
Não resisti à velha tentação de tentar reconstituir, mentalmente, a vida de cada uma dessas pessoas.

Mais um pontapé, um olhar inquisidor e a pergunta: Onde é que andas?, fizeram-me voltar ao resto das almôndegas.
Levantei-me e fui comprar pilhas - também nisso se parece com as lojas dos aeroportos.
Saímos, como toda a gente, para continuar viagem. Como toda a gente, não tinhamos nada que nos prendesse ali. Aquele lugar não tem importância, nem identidade, nem faz parte de nada, a não ser de um instante na viagem de cada um. É isso que me agrada neles.
E lá voltamos à autoestrada e ao CD dos Coldplay, porque aquilo é só uma paragem rápida, fora do espaço e do tempo.

sábado, 24 de setembro de 2005

A Sul

A viagem é, realmente, de trabalho. Foi marcada pouco depois do meu regresso de férias.
Primeiro não liguei. Depois resmunguei. Queria ir para cima, tinha que ir para baixo!

Não me convinha uma viagem agora. Não em tempo de vindima. Mas era agora, tinha de ser.
Foi a primeira de uma série de viagens por aí, por este país.

Foram muitos quilómetros, muitas horas de viagem. Nos mais variados sentidos, em autoestradas, ICs, estradas municipais ou caminhos de terra batida. Às vezes sem caminhos nenhuns.
Com carros rápidos e confortáveis, em carroçarias de pickups e, em casos mais apertados, com motas 4x4.
Com roupinha lavada ou calças cheias de pó, cabelos despenteados pelo vento e portáteis numa mochila.
A falar com pessoas completamente diferentes. A conhecer mundos em tudo diferentes (opostos!) que coexistem lado a lado. Tudo num pedacinho no Sul deste rectângulozinho que é Portugal. Mas longe dos olhares.

Eu, perdi o rumo, como é normal. Nunca sabia por onde ía (mas sabia para onde tinha que ir porque nos tinham fornecido uma lista). Mas também não me importava muito. O risco não era grande, era evidente que haveriam sempre de nos encontrar.
A única coisa que me preocupava era saber de que lado estava o mar. Andava sempre de nariz no ar para tentar perceber. O resto não me importava. E quando o via, nem que fosse lá bem ao longe, só uma pontinha de azul, lá gritava: Olha, olha! O mar!!!
Às vezes viamos o mar, sim. Às vezes chegavamos lá. Ainda há praias sem casas e sem sequer caminhos!
Às vezes, largava o portátil e a tralha toda e não resistia. E depois molhava a roupa porque nem tinha toalha nem havia tempo para secar, e não sei como não me constipei.
E estava como queria...!

Foi tudo muito condensado. Há dias que valem por meses. Muda-se!
Há coisas que nos fazem mal que ficam a anos luz. Tudo muda de lugar. As referências são outras.
Quem é importante continua a ser importante. Mas, até isso, deixa de ser tão absoluto. Porque nos tornamos mais fortes, nos bastamos mais; porque o ar respirado assim nos torna mais livres, mais leves.
Há muita relutância em voltar. Se calhar com medo que esta força que se respirou nesse vento se esfume com o regresse à rotina, aos mesmos lugares, às mesmas pessoas, aos mesmos problemazinhos.
Enfim... eu sei que sou um bocadinho estranha.

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Va para fora ca dentro!

Nao sei muito bem por onde ando. Sei que fizemos ontem, muitas horas de viagem. Mas mesmo muitas. Sei que , as tantas, nem mapas, nem busulas me eram suficientes (mas nao so a mim! e o problema era esse!) e que um colega me disse com ar dissimulado:

- Deixa la! Daqui a pouco tempo vemos uma placa a dizer: "Portugal - 5Km"!

Gargalhada geral. De facto ja nao sabiamos mesmo onde andavamos!
Mas acabamos por chegar onde deviamos. Sei que andamos por areas cujos servicos oficiais se situam em Silves. Ja nao e mau! Mas isso ja eu sabia antes de vir para aqui.

Sei que tratamos quase so com estrangeiros, que falamos e escrevemos em ingles e que os computadores que nos forneceram nao tem assentos.
Sei que andamos, dependendo dos locais, em carrinhas mercedes ou pickups de traccao completa. Que, no segundo caso, preferimos andar ca fora apesar de apanharmos imenso vento, po e abanoes - ou, se calhar, por isso mesmo.
Sei que esta noite adormeci assim que cai na cama e que adorei o pequeno-almoco.
Sei que 99% das frases aqui comecam com "So...".
Sei que existe um outroPortugal (este!) que me era totalmente desconhecido.
Sei que muitas coisas que me atormentavam parecem ter ficado noutro planeta.
Sei que entendi agora o significado profundo do "Va para fora ca dentro!", que gostava de fazer isto por muuuuuito tempo e que there is no point in negar que adoro isto!


And there is no point in negar tambem que estou um bocadinho de cabeca no ar e com alguma falta de nexo, eu sei, (e do vento, e da viagem, e dessas coisas...) e que nao tenho tempo para visitinhas aos blogs... mas bem disposta! Bye! :)
PS (mas mesmo muito post scriptum): Eu sei que parece. A culpa é inteiramente minha. Mas isto não é uma viagem de recreio; é uma viagem de TRABALHO. Palavra de honra! :)

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Razões

Tenho tido falta de tempo.
Só consigo estar num dos sítios, dos dois onde era indispensável que estivesse (eu sabia que esta fase ía ser difícil, mas entre o saber e o viver essa realidade vai uma distância enorme).
É um bom motivo para não escrever. Nem é desculpa, é motivo.

Mas também... nem sempre é fácil.
Há coisas que já não quero dizer. Não assim. Nem sei se devo.
Às vezes quero, às vezes páro. Ando assim, ao sabor de impulsos. Não de impulsos superficiais, mas, ainda assim, de impulsos. Rápidos, turbulentos, desestabilizadores. E cansada.

Li nalgum sítio que a maioria dos blogs não chega a durar um ano. Este já cumpriu essa meta.
Num ano muda muita coisa. Muda-se muito.
Eu mudei, as circunstâncias mudaram.
Mudaram sentimentos, prioridades, estados de alma.
Num ano até desaparecem rotinas e criam-se outras.
Num ano perdemo-nos, encontramo-nos, perdemo-nos... o tempo dá para tanta coisa!

Não estou a dizer que acabo o blog. Já disse, já desdisse.
Já o disse a algumas pessoas, já o disse aqui... e acabo por voltar.
Também já disse, mais do que uma vez, que as coisas não eram as mesmas. E fui sincera.
Não são. Sou absolutamente sincera no que escrevo, mas não sou absolutamente transparente. Não posso. Se calhar ninguém pode, nem ninguém deve! Não, não se deve mesmo!
E, no entanto, foi tão bom sê-lo durante uns meses...!
Bom... parece-me que o fui agora!

sábado, 17 de setembro de 2005

Gostava de culpar a lua...

Eu avisei que tinha entrado numa fase com "especifícidades".

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Porque nem tudo é vindima

Sim, porque nem tudo é vindima, e porque tenho sempre muito mais sono de dia do que de noite, descobri, finalmente, esta madrugada, um hotel em Edimburgo onde não é preciso pagar as módicas quantias que por lá se pagam.

Tem preços fantásticos, condições muito boas e é no local que mais me convém ( ainda por cima é bonito). Claro que está quase sempre esgotado e que as reservas têm que ser feitas com antecedância.

Ora, acordei bem disposta (apesar das muito poucas horas de sono) e pensei: Vou fazer uma reserva para Janeiro. Nessa altura já posso!
Pensei e comentei com a minha mãe quando a encontrei. Resposta dela:

- Em Janeiro não podes! Toda a gente faz anos em Janeiro! Como é que não te lembras de uma coisa dessas?!

- Está bem... Tem razão. Vou mais para o fim.

- Mais para o fim? Só se for mesmo para o fim, ou esqueceste-te que tu também fazes anos em Janeiro?

Ò maldição! Toda a gente fica ofendida se eu faltar aos seus anos, e toda a gente fica ofendida se eu entender passar os meus a milhas (literalmente!).
Ora em Janeiro não pode ser, está visto! Esperar mais um bocadinho...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

3; 2; 1... Vindima


Começou a sério. Com tudo o que isso implica.
Nesta, e nas próximas três semanas, estarei numa outra dimensão. Não devem, por isso, ser estranhadas flutuações, irregulariedades, irracionalidades e coisas que tais.

Entretanto, acho que é uma boa altura para fazer o mesmo aos outros.
Não tentar perceber nada nem ninguém. Nem tentar ver pessoas à lupa, ou dissecar situações.
Não se gosta "porque"..., nem se deixa de gostar "porque". Nem somos mais felizes porque entendemos isto ou aquilo. Sente-se e pronto. O que quer que seja; bom ou mau.

E agora... sacudir o cabelo molhado e ir lá fora... que está um dia lindo; seja lá o que for que isso signifique!

terça-feira, 13 de setembro de 2005

Certezas!

A partir dos primeiros dias de Setembro tenho ouvido conversas com um tema recorrente. Demasiado recorrente.

A minha amiga A. telefona-me e, dez segundos depois, começa num pranto porque deixou o T. num colégio, porque ele ficou a chorar, porque não aceita colo de quase ninguém e porque, quando o vão buscar, está esgotado de tanto chorar.

A minha colega I. anda tristíssima e a sentir-se uma péssima mãe porque deixa o G. no colégio, bem disposto, mas que lhe dizem que ele começa a chorar cinco minutos depois, e quando o vai buscar, ao almoço, ele está sempre transpirado e a soluçar, cansado de chorar.

A minha amiga T. chora porque a M., que dizia que queria ir para a escolinha, afinal, chora pela mãe e pelo pai todo o dia.

E estas conversas repentem-se à minha volta, ou dirigidas a mim, várias vezes ao dia desde que este mês começou. Tantas vezes, tão cheias e angústias e sentimentos de culpa ou frustação. Tão sentidas.

Nestas alturas misturam-se dois sentimentos.
Por um lado quero aliviar-lhes a angústia, dizer-lhes que não são piores mães por isso, que é uma fase, que eles vão gostar, que os colégios são bons, que as educadoras sabem o que estão a fazer, que os podem compensar no tempo em que estão com eles... Queria dizer-lhes tantas coisas deste género. E digo. E até acredito no que estou a dizer, senão não o diria, e ficaria, simplesmente, calada.

Mas, por outro lado, não me convenço que esta seja a solução ideial. Nem para mães nem para filhos. É a possível!
E sinto um alívio enorme por não ter que passar por esta angústia.

Há muito que me lembro de ouvir o meu patrão/pai dizer que, quando tivesse filhos, eu não trabalharia. Que convinha que me mantivesse informada das coisas, mas que não trabalharia, e que passaria a receber simplesmente uma parte dos lucros, porque o importante mesmo são as crianças. Achava um disparate! Achava que ele nem sequer devia dar palpites no assunto. Hoje respiro de alívio, por a situação ser esta.

E porque, ainda assim, para me sentir realizada profissionalmente posso fazer o que cheguei a fazer em tempos ( e que vou voltar a fazer), sem ter obrigações com horários, nem com ritmos de trabalho, nem mesmo com o lugar onde o faço (que pode ser no fim do mundo, se me apetecer).

E é bom ter certezas nestes assuntos. A certeza que, filhos meus, não terão de ir para um colégio assim pequeninos, e ficar a chorar, e eu a chorar também, e esforçar-me por trabalhar enquanto a cabeça deve estar só a pensar neles. Que podem crescer com tempo, ao ritmo deles, com espaço e calma, que podem ser o centro do mundo, sujar a roupa quando entenderem e esfolar joelhos, e adormecer na caminha deles.

Claro que terão um pai e que não posso decidir tudo sózinha - nem quero! Mesmo! - e que tenho a noção que estes processos são feitos de cedências. Posso ceder em muita coisa, muita coisa mesmo, mas nisto não: não vão para um colégio pequeninos, e pronto!

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Pergaminhos


Tenho saudades deles, dos pergaminhos.
Da cor, da textura, do cheiro. De lhes pegar com cuidado, com a consciência que estão ali à espera há séculos; de tentar imaginar o aspecto de quem os escreveu e se foi num dia luminoso ou de chuva. Saudades da letra e até das abreviaturas, de os decifrar como quem desvenda um mapa de um tesouro. Porque cada um deles é isso mesmo: um tesouro que atravessou o tempo até às nossa mãos.
Do ambiente silencioso e reverencial dos arquivos.
E de ficar a saber as motivações de quem os mandou escrever, como se fossem segredadas ao ouvido.
De conhecer pessoas que viveram há 600 ou 800 anos. Tão bem, como se compartilhassemos a vida com elas. Algumas, tão bem que lhes consigo adivinhar opções. Saudades delas!
De me alegrar com as vitorias de algumas e de sentir os desgostos velados de outras. De lhes refazer a vida, de as acordar.
Começo a sentir vontade de contar o tempo que falta para voltar a eles!

domingo, 11 de setembro de 2005

Mais um Domingo

Excluir todas as pessoas do meu Domingo não é sinal de antipatia.
É só querer aproveitar a casa vazia, o silêncio, a calma, a cumplicidade com a minha égua, a falta de horários, o poder espalhar a roupa pela casa até ao banho, recuperar a vontade de cozinhar que voltou com o ar fresco, fazer o que muito bem entender, ou não fazer quase nada, que foi o caso.
Ah... ontem o mar já tinha a cor do Inverno...