No Verão, nas férias, tive a infeliz ideia de ir na conversa de, nem mais nem menos do que quatro amigas minhas, e enfiar-me num salão de cabeleireiros fabuloso, onde trabalhava um cabeleireiro fabuloso, sensível como uma menina (e mais coisas como uma menina), onde as marcações para tão fabuloso sítio e tão fabuloso atendimento eram feitas com vários dias de antecedência.
Lá consegui marcar, para mal dos meus pecados, para um dia que se revelou um dia, esse sim, verdadeiramente fabuloso de Sol e de mar (coisa que rareou este Verão).
E estive lá, sentada na cadeira (ora numa cadeira, ora noutra), a ser atendida ininterruptamente entre as duas da tarde a as sete e quinze (sim: 19H15m). Cinco horas e 15 minutos, em que recebi um fabuloso tratamento, ao meu rico cabelo que repetiam-me ser, óbviamente, fabuloso.
Durante uma tarde inteira, mexeram e remexeram no meu cabelo, cortaram, fizeram madeixas (de que ainda ando a tentar livrar-me), pintaram de castanho as pontas do cabelo ( as que não estavam incluídas nas madeixas) porque estava louro do Sol e do mar, lavaram, puxaram, pentearam, e sabe Deus mais o quê.
Durante essa tarde também me ofereceram cházinhos e cafézinhos e águinha e simpatia demais.
Mais tarde, em parte para exorcisar a coisa e em parte para preparar uma pessoa para os estragos que veria dali a um ou dois dias (já não me recordo bem a que dia da semana se deu o acontecimento) no meu rico cabelo, pergunto a quem estava do outro lado do telefone, quanto é que ele achava que tinha gasto nisto tudo.
Quando, depois deste relato, nos respondem 25 euros, percebe-se logo que, do outro lado estava um homem, porque como é óbvio, para que levassem uma tarde inteira a estragar-me o cabelo, foi preciso fazer várias multiplicações a esses 25 euros.
E isto tudo vem agora, em pleno Janeiro, à baila porquê?
Porque me lembrei de comprar baton para o cieiro. Simples, banal, só para hidratar. Labello, ou coisa assim.
Entrei num mini-mercado e perguntei se tinham (no meio de tanta coisa do género, não sei porque não tinham).
E não tinham, mas indicaram-me, gentilmente, uma ervanária mais acima. E eu fui lá, e pedi isso mesmo: um baton para o cieiro.
Apresentou-me dois à escolha e dissertou acerca de cada um. Confesso que, para além da cor da embalagem, duvido que divergissem em mais alguma coisa.
Escolhi um, claro. Tinha que escolher um.
Já o utilizei e parece-me igual ao Labello. Se não visse a embalagem diria que era igual. Mas claro que este vem de Itália, é feito de uns óleos únicos, tem umas características muito próprias e é muito especial. Pelo menos no preço que, mais uma vez, para se achar o valor correcto, teve que se multiplicar muitas vezes o preço de um baton normal.
Ainda bem que estas coisas me acontecem muito espaçadamente, porque odeio estas mariquices e fico fula porque me sinto enganada.
E escusam de tentar enfiar-me na cabeça que mulher que é mulher a sério, tem que apreciar estas coisas, porque eu detesto.
Em tudo o resto sou muito feminina, em muitas coisas acho que até devia ser menos, mas nisto... nisto não.
Odeio que me levem dinheiro assim, e acho que é apenas um insulto à inteligência das pessoas quando associam feminilidade, elegância, requinte, bom gosto e coisas que tal, a coisas que sem serem em nada melhores do que as outras, têm preços absurdos.