As crianças permitem-nos saborear o melhor e o pior da vida.
São passe para as maiores alegrias e permitem-nos viver uma felicidade que nunca, até à sua chegada, tinhamos, sequer, concebido que existisse.
Mas é também, através delas que provamos o gosto amargo da vida e da natureza humana.
A Constança, enche-nos a vida de Sol. E a bebé mais simpática, e com o sorriso e as pestanas mais bonitas que conheci em toda minha vida. Sem falsas modéstias!
É a luz personificada, é a candura na sua plenitude, é a doçura tornada gente.
Ainda assim - lá está!- a par da maior das felicidades, através dela, sou obrigada a enfrentar o facto negro da incapacidade de pessoas, familiares relativamente próximos, de gostarem dela, de a receberem com alegria e coração aberto de, alguns, nunca se terem alegrado com a notícia da sua chegada -nem nunca terem sido capazes de fingi-lo, de a - a ela! aquela doçura de bebé que nos olha com olhos doces e sorriso que desarma - preterirem claramente em relação a outras crianças.
Não me importam essas pessoas. Gostaria que não nos prendessem laços familiares de nenhum tipo. Gostaria que estivessem à margem das nossas vidas e dos nossos pensamentos.
Mas espanta-me a natureza humana. Ou, melhor dizendo, espanta-me a natureza de algumas criaturas.
O N. diz que isso não o afecta. Que, conhecendo a Constança, sabe que quem perde não é ela, são essas pessoas que não tiveram (nem têm) espaço e tempo na sua vida para ela.
A mim, depois de nove meses de gravidez (seis de conhecimento da maioria das pessoas) e mais seis meses de vida da Contança, continua a chocar-me. Cada dia mais, para ser franca. E a revoltar-me.
E preocupa-me também que aquela menina, tão doce e tão pura, tenha de aprender um destes dias que há gente má, que há gente em quem não pode confiar[-se], que há criaturas que era suposto gostarem dela, mas que na verdade não gostam. Um dia vou ter de manchar essa pureza imaculada com a realidade sombria que existe por aí, sob pena de que ela seja indefesa. Um dia, vou ter de lhe ensinar coisas que não queria ensinar...