quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A ler...

A ler isto.
A ler aos bocadinhos. Bocadinhos pequeninos, entre mamadas, fraldas, dar colo à menina...
E que bem que me sabe.

Bilhete de viagem para outra realidade, outro sítio e outro tempo. E, ao mesmo tempo, tão, tão familiar.
Meio fuga, meio reencontro.

Não, não é a primeira rainha de Portugal. Não gosto do título, porque, embora entanda a intenção com que foi escolhido, não é correcto e induz em erro. Mas é um bom livro. Embora não seja um livro de entretenimento.

[E como passei a apreciar mais os bocadinhos que consigo "tirar" para ler, agora que a M. nasceu...!]


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Etapas

A minha menina pequenina, a minha bebézinha, deixou hoje, em definitivo, de usar a alcofa.
Não, não é cedo. Há muito que não queria lá permanecer. Pelo menos não enquanto acordada. Há muito que tivemos de lhe comprar uma espreguiçadeira. Muito antes do que estavamos a contar.
Há muito que lá ficava apertadinha. Muito apertadinha (sim, que o percentil 90, não lhe permitia outra coisa).

Hoje peguei na alcofa e, de impulso, tirei as mantinhas e os lençóis cor-de-rosa, clarinhos, com bordado inglês e fitinhas. Não mais os vai usar. Nem aquele outro, branquinho, com o monograma, que a esperava quando viemos da maternidade. Nem nenhum outro, destes, mais pequeninos.

Peguei na alcofa, corri o fecho, e subi, escadas acima, até às águas-furtadas. Guardei-a ali, até a levar para a lavandaria, antes de a guardar de vez.

Hoje a minha menina pequenina, a minha bebézinha, deixou, de usar o seu pequeneno ninho, feito de encomenda, para ela.
Está a crescer e é bom. Mas fez-me chorar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Da chegada dela

No pequeno berço transparente que recebeu a minha filha quando nasceu, ao lado deste símbolo (diga-se em abono da verdade que, bonito e, feliz e estranhamente, conservado desde o tempo da fundação), havia escrito um Seja Bem Vinda Mafalda.
Mero pró-forma, dir-me-ão. Seja. Talvez seja mesmo apenas um formalismo simpático, um lugar-comum adocicado, um lampejo de calor humano no funcionamento maquinal das nossas instituições. Talvez seja apenas isso mesmo. Talvez o mesmo seja afixado à cabeceira de todos os recém nascidos em todas as maternidades em solo nacional e não apenas nesta. Mas nesta, e este é o ponto, o Bem Vinda, não está apenas impresso nesse cartãozinho que trouxe para casa comigo como (feliz) recordação de um momento tão importante.
Nesta maternidade, esse Bem Vinda é, realmente, verdade; praticado em cada gesto dos muitos profissionais que lá trabalham.


São muitas as vezes em que nos queixamos. Da vida em geral e das instituições que nos servem (ou deviam servir). Na maior parte das vezes essas queixas são apenas justas. A verdade é que, demasiadas vezes, somos mal atendidos, mal ajudados, mal tratados, mal esclarecidos… Enfim, a verdade é que muitas coisas não funcionam neste país, e quando se trata de estabelecimentos de saúde e, para mais, estabelecimentos de saúde públicos, a panorama é negro.
Mas o contrário também acontece. Afinal existem excepções. Felizes e meritórias excepções. E, nesses casos é justo que o reconheçamos.
Este é um desses casos.


Fui seguida nesta maternidade durante a gravidez. Aqui tive as consultas com uma obstetra que somava as qualidades humanas às profissionais, aqui fiz as ecografias, análises, rastreios bioquímicos, eco cardiogramas, ctg´s. Aqui tive a sorte de me instalar, sem sobressaltos e com calma, antes de iniciar o trabalho de parto (natural e rápido). Aqui, senti-me em casa, no melhor sentido da palavra. Segura com os meios disponíveis, confortável com as instalações, agradavelmente surpreendida com todo o pessoal que lá trabalha, desde obstetras, enfermeiras, anestesistas, serviço de recobro, senhoras da limpeza, senhoras da cantina, seguranças e até a senhora do Registo Civil, desde as Consultas Externas, ao laboratório de análises, às Urgências, ao Bloco de Partos e, finalmente, o Piso 3, onde bebés e mães são recebidos e amparados, na verdadeira acepção dos termos, nos seus primeiros dias.


O rigor com que nos assistem, a simpatia e calor humano, a eficácia com que trabalham, a excelência de todos os serviços é, realmente, inexcedível. Inexcedível e impagável.



O parto foi, de facto muito rápido, o que não significa indolor, mas foi o mais humano que se pode querer. Fui de tal modo bem atendida que quase diria que fui mimada, com festas na mão, palavras de simpatia e afagos.
A Mafalda nasceu bem e saudável. Vi-a nascer, foi logo colocada sobre mim, com aqueles olhinhos muito abertos e interrogadores, cuja imagem permanece na minha memória tão viva como no primeiro minuto, e foi o Pai que lhe cortou o cordão. Mamou logo, ali mesmo, e até no recobro a tive comigo.
Mimadas sim, fomos mimadas. Saudavelmente mimadas. No momento do parto e em todo o internamento.
O cuidado é tal que me telefonaram de lá dois dias depois de termos vindo para casa. O telefonema da praxe, para saber como ia, eu e ela. E para ajudar. Sim, mesmo para ajudar. Durou quase uma hora e aplacou muitas das minhas inseguranças de mãe de primeira viagem, nos seus primeiros dias com a bebé a cargo. Não, não foi um telefonema maquinal, era humano e caloroso, era, por medida, o que precisava no momento.


Tivesse eu a possibilidade de, se voltar a engravidar, ter o bebé em qualquer outro local – um qualquer em todo o mundo – e escolheria este mesmo.


Porque sim, porque há quem mereça agradecimentos; porque o Hospital Dona Estefânia merece. Por esse cartãozinho à cabeceira do berço, por esse Bem Vinda Mafalda, por o terem tornado tão, tão real. Obrigada!

domingo, 4 de janeiro de 2009