quinta-feira, 28 de junho de 2007

Favoritos

Tenho de organizar os favoritos. Estão um caos!
Há coisas que nem sei porque lá estão, há outras que, afinal, não estão lá. Há uma lista enorme, avulsa, desorganizada e nada funcional.
Há coisas que, pura e simplesmente, não encontro.


Tenho de organizar os favoritos, mas os do computador, porque os do coração estão cá todos, e muito bem organizadinhos.

Balanço

O lado mau de trabalhar até às duas da manhã e começar o dia às horas de sempre, a que se juntam outros dias também a trabalhar mais horas do que é razoável, é que ficamos tão cansadas, mas tão cansadas que até perdemos a noção dos dias.

O lado bom de perder a noção dos dias é que julgo que hoje é Terça ( e não me convenço do contrário), e na verdade ser Quinta, e quando julgar que estou a meio da semana, estou no fim-de-semana.

O lado mau, é que tenho de trabalhar no Sábado.

O lado bom é que, ao menos, tenho o Domingo.

E não, não é uma queixa. Continuo tão bem disposta quanto antes.

terça-feira, 26 de junho de 2007

À Monsieur de La Palice

Não sei quem era o senhor, mas tem fama de dizer umas verdades anedóticamente evidentes.
A que se segue não é dele, é minha, mas bem podia ser dele.

- Sentirmo-nos bem é muito bom.

(Eu sei que estes estados de espírito são do mais entediante que há. Mas haja paciência! Já dura há um tempinho e não me vejo com vontade nenhuma de abdicar dele. Acho que lhe tomei o gosto; e o jeito também.)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Contos Exemplares

Perdida de sono, cansada do dia, e com vontade de me deitar mesmo agora, ainda com a luz do dia lá fora, não deixo, no entanto de me sentir um bocadinho culpada.

Eu sei que tinha combinado falar com uma amiga, com quem já não falo há algum tempo (ando a falhar neste campo, por falta de tempo. e eu acho que é muito mau começarmos a aceitar que temos tempo a menos para os amigos). Eu sei que sim, e que não me sinto capaz de o fazer. Mas, tirando isto, não tenho nenhum motivo objectivo para me sentir culpada por me deitar tão cedo. Cumpri as minhas obrigações, estou cansada, posso deitar-me mesmo que o céu ainda esteja azul.

E, no entanto, há um sentimento de culpa idiota que me leva a passar a vista pela estante para encontrar uma desculpa para mim mesma.
Pego num livro e levo-o para a cama. Não vou bem, bem deitar-me. Vou ler para a cama, o que é substâncialmente diferente.

Amanhã não vou dizer a ninguém que fui dormir bem antes das 10H da noite. Eu fui foi ler.
Esta noite levo os Contos Exemplares da Sophia de Mello Breyner para a cama. Não devo ler metade de um único conto, mas isso também não importa. Não é essa a sua função.

Eu serei sempre igual a mim mesma em algumas coisas, suponho. Outras há em que me espanto com as mudanças, é verdade. Mas há coisas em que não devo mudar mesmo.Eu deitei-me cedo sim. Mas acabei por ser acordada (e não me aborreci nada com isso) e a seguir, comecei a sentir fome a achei que o que vinha mesmo a calhar eram umas torradas. E fico na cama a pensar em torradas, estaladiças, quentinhas, com muita manteiga e como pensar muito faz mal, levanto-me, vou à cozinha preparo uma caneca com leite e faço duas torradas dessas, mesmo dessas em que estava a pensar. E fico para ali a comer devagarinho, sentada numa cadeira da cozinha com as pernas cruzadas, e saber-me bem o silêncio da casa. E depois disso... ainda li um conto da Sophia de Mello Breyner: Retrato de Mónica.Cada vez mais acho que não vale a pena programar muito as coisas (algumas coisas), e cada vez mais acho que é muito mais agradável viver assim.

A minha amiga C. diz...

... diz, uma coisa que é muito dela.



Atribui quase sempre, e de uma forma automática e instantânea, todos os meus estados de espírito, flutuações de humor, tomadas de decisão, manifestações da alma, evoluções, suspiros, risos, lágrimas, gargalhadas, cansaços, vontade para ir às compras, dias em que tenho mais sono, noites em que tenho insónias, apetite para cozinhar, determinações, hesitações, a forma como me sento na cadeira ou me estendo no sofá, músicas que ouço, e as que não ouço, espirros, momentos de preguiça e ocasiões de grande actividade, livros que leio, ou os que vou deixando na cabeceira, mergulhos no mar, olhares para as estrelas, o mais súbtil dos gestos, etc, etc... a uma única pessoa.

Ora essa pessoa a quem ela atribui tudo isso, dependendo dos [meus] momentos, umas vezes com quase veneração, outras com uma animosidade que só não me assusta porque existem uns quilómetros a separá-los, não pode com este peso todo. E não pode porque não é humanamente possível carregar tamanho peso, não pode porque não é justo, e não pode porque não é verdade. Que não há ninguém no mundo que posso ser responsablizado por tudo na vida de outra pessoa. Nem mesmo quando são coisas boas. Se nós nem pelas nossas próprias vidas nos podemos responsabilizar em absoluto; há tantas coisas que nos fogem ao controlo...
Não pode, porque eu digo que não pode.
Há pessoas que nos mudam a vida, mas não podem carregá-la às costas.
Livra, C.! Entendes agora, já que não me ouves?!



sexta-feira, 22 de junho de 2007

Cerejas



Não sou dada a grandes loucuras gastronómicas. E até nem me perco por doces.
Sou razoavelmente disciplinada e se não devo comer chocolate, mesmo gostando, não como. Não como quase nunca. Raramente. Em poucas ocasiões. Pronto... como relativamente poucas vezes, digamos assim. Mas tenho um mínimo de auto-controlo, porque tenho.


Mas com as cerejas não é assim. As cerejas são a excepção à regra. As cerejas fazem-me cair no pecado mortal da gula. Pura gula e puro pecado. Até a cor delas é a do pecado.
E eu não tenho a culpa, só não lhes resisto.


Há uns dias, andava eu a tratar dos meus (do trabalho) assuntos, tenho o azar de passar por uma frutaria (ainda existem frutarias em Lisboa. Boas frutarias, cheias de coisas boas e senhoras simpáticas a atender-nos), elas estavam mesmo à vista de quem passava, não lhes resisto, entro e compro 500g, com medo que mais me pudesse fazer mal.
A senhora diz que são mesmo das boas, que são da Cova da Beira, das que não se estragaram.

Eu esqueço as recomendações de que se deve lavar a fruta antes de a comer, esqueço a norma de educação que me enfiaram na cabeça em pequena que diz que não se deve comer na via pública (que é feio, e tal) e desato a comer cerejas.
E não vejo mais nada à frente, nem passadeiras, nem semáforos, nem números de portas... nada! Até que resolvo parar e comê-las todas, antes de ser vitíma de algum acidente, ainda por cima provocado por mim.
E é assim; não posso ir comprar nada que não venha logo com cerejas também. Não posso ir à cozinha sem ter de comer um monte delas se lá existirem.
E parar?! Custa tanto!

Por causa das cerejas, chego a inventar desculpas para sair do escritório e ir a casa em pleno horário de trabalho.
As cerejas são a minha perdição. E a minha frustação também; com tanto terreno, tantas espécies, tantas árvores, tantas frutas, tantas... e aqui não há cerejas, não há uma única cerejeira.
Quando for grande hei-de ter um pomar delas. Na Cova da Beira. Que a Senhora da frutaria diz que são as melhores, e são mesmo.
Nunca fui à Cova da Beira, mas um dia hei-de ter lá umas cerejeiras.



(Espero esquecer isto logo que passe a época das cerejas. O que é que eu havia de fazer com um pomar num sítio onde nunca fui e, na verdade (mesmo que envergonhada), não sei como lá se chega?! , i.e. tenho a ideia que fica entre a Serra da Estrela e a da Gardunha)

Nota: Afinal já sei mais umas coisas sobre as cerejas da Cova da Beira. Está lá tudo, aqui. E, até lá há mais coisas sobre outras frutinhas nacionais, e com receitas e tudo. Que eu cá nem nunca tinha ouvido falar deste site nem conheço quem o fez nem nada, nem nada... ;)

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Tílias

Ontem à noite quando saí de casa já o cheiro das flores das tileiras era tão forte que entontecia, um cheiro doce, envolvente, que se cola a nós. De manhã, quando regressei, não era tão forte, mas estava lá.


Foi sempre assim. Todos os anos, por esta altura ele volta, marca o tempo, a continuidade, a vida feita de ciclos que se repetem aparentemente ad eternum.
Os pirilampos nas primeiras noites de Primavera, o florir das sempre-noivas, as primeiras serenatas nocturnas de cada Primavera do rouxinol da mata, os grilos que andam tão calados, os melros que roubam os figos e os morangos, as noites estreladas, o cheiro enebriante das flores de tília. De noite. De noite é sempre entontecedor.
Mas essa aparente imutabilidade é ilusória. Eu não os sinto do mesmo modo. As mudanças dão-se. Até que idade cresceremos?


Pela primeira vez desde que tenho consciência de mim, reparo nestas marcas do tempo, do passar de cada estação sem olhar para trás, sem sentir saudades do que o tempo vai deixando mais longe. São memórias, só. Algumas doces, mas apenas memórias.
Pela primeira vez não sou teletransportada para os acontecimentos passados e fico presa a eles, ou neles.
Pela primeira vez desde que me lembro, alegro-me por encontrar estas marcas mas desta vez penso ao contrário: gosto do presente e não quero voltar para trás.
Pela primeira vez na vida a primeira expressão que me ocorre à cabeça ou à boca não é: Quando eu era... Que me importa isso?! Importa o que sou, hoje.


Quando muito, sorrio só para mim, e pergunto-me sem querer no entanto saber a resposta, no que pensarei para o ano, quando sentir o perfume das tílias, que nessa altura talvez não veja todos os dias.
E gosto tanto que seja assim.

Eu tenho uma amiga maluca

Telefona-me ontem de manhã, estranhei a hora e estranhei o tom de voz.
Notava-lhe a respiração irregular, o discurso aos solavancos com cortes no raciocínio ou, pelo menos, no sentido que transmitia. Estava nitídamente aflita, preocupada com alguma coisa, inquieta, um bocadinho de tudo isto e uns pózinhos de mais alguma coisa.

Inistiu que tinha de jantar com ela, que tinha que falar comigo, que era muito urgente, muito sério, muito difícil.
E muito complicado, concluí eu.

Mas a meio da semana, com tantas coisas atrasadas que tenho por aqui...
Bom, mas ela insiste que é mesmo importante eu também acho que sim, que tem de ser mesmo importante, ou não estaria a falar como estava.
Vou, claro.

Mas à hora de jantar não era nada! Nada!

- Mas ò C., então não havia uma coisa complicada sobre a qual querias falar-me? Então mas estavas tão aflita, lembras-te?! De manhã...

- Ah pois... mas passou! Foi confusão minha!

- Mas ò C., tu fazes uma "fita" daquelas, obrigas-me a vir jantar contigo a meio da semana e agora estás aí com esse ar de quem nem se lembra do que disse de manhã?!

- Já te disse que foi confusão minha, não é nada. A massa está boa, não está? E o Porto, fez-te bem, hein?!

- Fez, mas Estremoz, pelos vistos, fez-te mal a ti!

Eu tenho uma amiga maluca! Mas sim, a massa estava boa e a noite foi agradável.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O Norte*


Escrever, às vezes, pode ser tão limitativo, que nem vale a pena tentar.
Às vezes as palavras não servem; ou a vida serve-nos tanto... que dispensamos até as palavras.

*Sempre me perdi de amores pela expressão "encontrar o Norte", por oposição ao "perder o Norte" ou ao "desnorteado".

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Cá com os meus botões...

Eu devia odiar de morte os feriados e fins-de-semana. Ou, pelo menos, boa parte deles.
Devia, porque é sempre em dias destes que, para além do trabalho de todos os dias úteis da semana, se lembram de aproveitar para avançar nos projectos, para alinhar umas coisas urgentes, tratar de uns assuntos importantes, para... o que aparecer como justificação.

Acabei o meu dia de trabalho agora, com o envio de um mail que não, não era pessoal, que esses mal tive tempo de os ler hoje, quanto mais dar-me ao luxo de responder.

Devia odiar estes dias porque trabalho ainda mais do que nos outros, porque me dão ainda mais a sensação de falta de espaço e de liberdade e - o que é pior- de vida própria.
Devia odiá-los, e se fizesse parte da minha natureza esse tipo de sentimentos, odiaria com toda a certeza.

O que eu preciso mesmo é de diferenciar os dias úteis dos outros, como as pessoas normais.
O que eu preciso mesmo é de uns dias inúteis!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Thinking Blogger Award


Este é um post que andava sem vontade de escrever. Não tenho jeito para estas coisas. A melhor forma (ou a única possível, no meu caso) foi encarar estas nomeações, cada uma delas, mais como uma manifestação de simpatia de quem a fez do que o reconhecimento de qualquer outra coisa.

Fui deixando passar o tempo. Não escrevi um post-it para me lembrar que tinha algumas nomeações e que devia dar-lhes resposta. Confesso agora que deixei passar tempo demais, que a minha vida não foi um pântano durante este período de tempo e que, não tendo sido muito longo, foi o necessário para me deixar, a mim que tenho uma memória algo estranha, sem certezas de datas, nem bem do número de nomeações. Por isso peço muita desculpa se me esquecer da nomeação de alguém. Não será certamente por mal. Lembrar-me-ia se fosse um outro assunto que não este porque, volto a dizer, lido mal com nomeações.

Lembro-me que uma menina agora chamada Alecrim, ainda tinha o seu outro blog, me nomeou, lembro-me que o Miguel, a Xu, a Vilma, a Clara, a MC, a Piquinota e a Narizinho fizeram o mesmo.
E volto a pedir desculpa se me esqueço de alguém.
Se uma nomeação me deixaria sem saber bem o que dizer, um número um bocadinho maior, embaraça-me mais.

Não creio, sinceramente, sem falsas modéstias, que mereça estas nomeações.
Não creio que mereça os elogios que li, aquando das nomeações.
Não creio que este blog se distinga dessa forma. Não foi nunca minha intenção fazer ninguém pensar. Não creio que tenha experiência de vida, sabedoria, sensatez, autoridade, para interpelar ninguém e o fazer pensar.
Quando muito passou-se o contrário: usei o blog para pensar. Sim, é verdade, houve ( e haverá concerteza) ocasiões em que o facto de escrever no blog me levou a pensar na minha vida, a fazer um esforço para arrumar ideias, identificar causas e consequências, confrontar-me com medos e, por vezes, com acontecimentos que me doeram, deparar-me com alegrias. Muitas vezes - mesmo muitas - alguns comentários levaram-me a pensar, a ver outras perspectivas, às vezes outros caminhos, algumas vezes uma luz onde não a imaginava.

Se este blog leva alguém a pensar, é a mim. E mesmo assim, nem sempre. Muita vezes venho aqui e escrevo sem pensar, como quem respira fundo e renova o ar cá dentro. Mesmo sem pensar. Puro impulso. Um luxo que a vida nem sempre nos deixa ter, ou não seria um luxo.

Terá existido algumas muito raras vezes em que procurei passar mensagens a quem por aqui passa e o lê, até porque algumas dessas pessoas as tenho por amigas. Em algumas ocasiões, se por acaso tropecei numa verdade que me ajudou, num motivo de esperança ou de alegria, então nessa altura, procuro que cheguem ao outro lado do monitor, com a esperança de que essa descoberta não me sirva só a mim mas que aplane também outros caminhos.
Só nessa altura procuro, intencionalmente, fazer pensar. Mas são tão poucas essas ocasiões...

As nomeações implicam que faça uma outra coisa que me é particularmente difícil: escolher outros cinco blogues para nomear. Mas depois reparei que 5x8 dá um número confortável. Talvez capaz de englobar os blogs que conheço, e assim tenho o problema resolvido: estão todos nomeados.
O que é, aliás, justo porque todos, à sua maneira, fazem pensar. Cada um nos dá uma perspectiva da vida, em todos eles há partilhas das estórias do dia a dia de cada um de nós, há nascimentos, há perdas, há risos, crianças, dias brilhantes, corações desfeitos, lutas travadas, amores e amizades. Em todos eles há vida, e todos nós ficamos mais ricos nesta partilha de coisas tão nossas, tão únicas e, ao mesmo tempo, tão universais.
Pensando bem, talvez este prémio faça mesmo sentido, mas para todos nós.

Das [minhas] coisas estranhas

Eu sei que corro o risco de ser mal entendida, mas ainda assim...

Eu gosto dos hotéis das áreas de serviço das auto-estradas. Ou acho que gosto.

Nunca entrei em nenhum, e não sei o aspecto que têm, e muito menos o tipo de pessoas que os utilizam, e em que circunstâncias.

Na verdade, porquê que as pessoas hão-de dormir num hotel numa auto-estrada? O país é pequeno, e em poucas horas se chega ao local de destino. Mesmo em caso de cansaço, porquê que se há-de ficar num desses hotéis quando é tão fácil sair e escolher um na localidade mais próxima?

Na verdade, são lugares um tudo nada suspeitos. O que é uma pena.

Mas eu, que não os conheço, que não sei o tipo de pessoas que encontraria nos corredores, sinto algum fascínio por eles.

É pateta ter vontade de dormir uma noite assim, num desses hotéis? Assim numa noite em que não fosse importante a hora e o local onde chegar?

Eu acho que eles têm uma magia muito própria. Estão fora de tudo, não são em sítio nenhum, de facto. E estão ali, à beira de uma via que nos pode levar a qualquer lugar, dentro ou fora do país, assim o queiramos.

Fora do mundo, fora do tempo, e perto do destino que escolhermos na hora. Dão-me uma ideia de liberdade, de liberdade quase ilimitada, e de aconchego também porque são um abrigo, no meio de terra nenhuma, só um abrigo.

Já há muito tempo que tinha reparado neles. Já há muito tempo que tinha feito um comentário próximo deste à minha Mãe que me olhou mas nem respondeu, e que suspeito, deva ter ficado a pensar qualquer coisa do tipo: ... a miúda não deve saber o que diz! Mas deve passar, se não lhe dermos conversa!

Mas não passou. Continuo a pensar o mesmo e hoje, sei lá porquê, lembrei-me disto. Se calhar porque me estava a apetecer dormir assim, certa de estar segura e aconchegada bem no centro de sítio nenhum, a caminho do lugar que a nossa vontade, e só ela, ditar.

domingo, 10 de junho de 2007

Subitlezas

Visto o roupão a correr, ao sair do banho, ainda a tempo de pegar no telefone antes de parar de tocar.
Era a S., acelerada como quase sempre. Se queria sair um bocadinho à tarde.
Não, não posso. Vou para os anos de um primo. Este fim-de-semana foi dedicado a aniversários de familiares.
Conta-me com a indignação que se lia na voz, e que se imaginava ver na expressão:

- ...disse-me que tinha feito falta! Vê lá!! Que lata! Quem é que ele julga que é para dizer que eu fiz falta?!

Ri-me. Ri-me sinceramente. E nitidamente mais alto do que devia, porque ela queixou-se do facto de eu estar a rir de um assunto sério.
Ri-me da irritação dela, da quase sensação de ofensa com que ficou. Ri-me porque já a ouvi lamentar-se do contrário, de não ouvir nada de semelhante, mas dito por outra pessoa, diga-se.
Ri-me porque me vi, mentalmente, a fazer o mesmo. Porque sim, porque fiz, porque com toda a propabilidade voltarei a fazer.
Ri-me porque -não há volta a dar! - nós, mulheres, somos mesmo umas criaturas curiosas: podemos andar a lamentarmo-nos por não ouvir nada com um conteúdo semelhante, porque sim, porque nos faz falta, porque nos aplaca, porque nos aconchega, porque nos equilibra, porque nos dá paz e até... porque nos faz bem, em suma. Mas se é dito por alguém a quem não demos o direito de o dizer... está tudo estragado. Irritamo-nos, achamo-lo presunçoso, inconveniente e coisas afins. E a pobre criatura está cheio de sorte se sair da situação sem ser insultado.
Pobres homens, não devem ter noção do risco que correm ao dizer qualquer coisa deste tipo. Mas, por outro lado, também não devem saber o risco que correm se não o disserem. Pobres homens, indeed!

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Gene pool


Tenho uma árvore genealógica tão extensa como todos os outros seres humanos, com origem em alguém a quem podemos chamar Adão e Eva, ou australopithecus.
Como todos os portugueses descendo de pessoas de várias nacionalidades. É mesmo uma característica nacional, cada português transporta em si genes de antepassados com origem em sítios muito variados.
Se nalguma coisa não sou tão igual, talvez à maioria da população, é no facto de conhecer a minha árvore genealógica por vários séculos, o que, diga-se, não me torna nem melhor nem pior do que ninguém.

Sou portuguesa, e gosto muito de o ser, mas descendo de escoceses, irlandeses, ingleses, franceses, alemães, espanhóis e, lá muito, muito longe até de habitantes dos países nórdicos e de uma Avó da Arménia, que veio em peregrinação a Santiago de Compostela e não voltou a casa.
Em cada manifestação de temperamento ou em cada característica física há sempre uma explicação num ou mais antepassados. Isto é tão comum que há vezes em que me pergunto o que, de original, é meu. Mas não me sinto incomodada com isso. Na verdade acho uma certa graça.

Seja qual for o estado de espírito, há sempre uma explicação baseada nesta ou naquela característica deste ou daquele povo, ou desta ou daquela pessoa com quem nunca vivi, mas com quem sempre convivi.

Ora não é que ande num dolce fare niente, ao qual eram muito dados os Avós Fernado ou Domingos, mas nada ao género do Avô Arnaldo, nem do Avô Guido.
É assim mais um laisser faire, laisser passer, em relação a uns assuntos aqui do trabalho, coisa que o Avô Henri jamais faria, mas o que não tem remédio remediado está, e estou certa que o Avô Afonso, pragmático como era, me daria razão.
A vida é tão curta e ocupamos tanto tempo com coisas que não contribuem em nada para a nossa felicidade, passamos tanto tempo a adensar situações, a criar problemas.
A Avó Margaret também complicou muito, mas um dia deixou-se dessas coisas. A vida é tão simples, tão igual, aqui ou na Escócia, no séc. XI ou no XXI. O pouco que ela precisava para ser feliz, é o mesmo que esta neta a quem lhe deram o seu nome precisa. Nada mais. Eu sei que ela me entenderá, lá de onde nos vê, e há-de sorrir complacente como sei que era, a esta sua neta. Eu tenho cá destas certezas.
E isto tudo para dizer que ando com pouca vontade de escrever, também com pouco tempo é verdade, mas com pouca vontade. Mas como diriam o Avô Edward, ou o Avô Malcom... no news, good news.
Pura preguiça para a escrita. Eu funciono muito assim. A culpa só pode ser dos genes, que minha não é de certeza!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Isto não era assim...

Não gosto de calor. Não nos damos bem.
O calor tira-me a concentração, faz-me sentir cansada, sem apetite e com tonturas.
Há também uma estranha relação entre a temperatura e a minha apetência para a culinária. No Inverno gosto muito de estar na cozinha; em Agosto, que é até ao dia de hoje, o único mês em que são mais os dias em que cozinho do que os que não cozinho, não sinto atração nenhuma pelo fogão, a menos, claro, que esteja um dia fresquinho de nevoeiro, coisa que se consegue com alguma frequência na minha praia.

Pois não é que hoje, com o dia que está, fiquei toda contentinha por não ter ninguém em casa e, portanto, ter de ir fazer o meu próprio almoço?! Mas é que fiquei!
E lá fui eu, feliz da vida.
Sim, não foi nada do outro mundo, porque a única coisa que havia descongelada, no frigorifico, eram costoletas. Portanto foi cordon-bleu (ainda não sei porquê que tem este nome), e puré de batata (sem ser do instantâneo) e saladinha.
A sobremesa é que não deu trabalho nenhum, porque apesar de uma certa criatura me ter andado a tentar ontem à tarde e à noite com um famoso bolo de chocolate, fui sensata e comi gelado de manga.
E a satisfação que me deu, fazer o meu próprio almoço...
Eu não era assim...! Com este calor...?! Nem pensar!

Não deixa de ser um bocadinho absurdo cozinhar só para uma pessoa. Não dá lá muito jeito.
E é mais absurdo ainda a quantidade de loiça que se suja só para uma pessoa.

Mas enfim... gastei muito mais tempo ao almoço, mas soube-me tão bem cozinhar o meu almoço...

terça-feira, 5 de junho de 2007

Coisas [mesmo!] de mulheres

Ando sem tempo. Já disse isto, não foi?! Muitas vezes?! Acho que sim...
Mas ando. Ando ainda mais sem tempo do que costumo. É tudo para ontem e para fazer depressa. E o pior é que é mesmo!

Ontem andei toda a tarde a correr por Lisboa, de um lado para o outro, para tentar chegar antes da hora de fecho ao maior número de sítios possível. Metade das coisas fica por fazer. Podia ser pior.

Nessa vertigem, passei e olhei.
Há imensos, há-os em cada esquina, por todo o lado. Há tantos, e eu, embora ache alguns interessantes, bonitos mesmo, nunca me deixei enfeitiçar por um assim, num relance, à primeira vista.
Era lindo! Lindo de morrer e estava ali! E eu olhei para ele e quis parar, mas não podia.
Não me lembro de alguma vez ter sentido uma vontade assim, irracional, de parar de deixar o que tinha por fazer para ir ter com um; com ele, porque era com aquele, só aquele!

Segui, mas com a imagem dele na cabeça. E enquanto subia e descia nos elevadores, enquanto falava com as pessoas, enquanto respondia a umas perguntas e fazia outras, enquanto entregava uns papéis e guardava outros, enquanto fazia o que tinha a fazer, era a ele que via, era nele que pensava.

Perto do fim do dia tomei uma resolução simples.
Era tão fácil acabar com aquilo: era ir até lá, certificar-me de que não tinha visto mal, que ele era mesmo o que me tinha parecido, que ele era feito para mim. E depois, não o largar mais e trazê-lo comigo.
O único problema é que com a pressa toda nem fixei o sítio preciso onde o vi, e depois de tantas voltas... era difícil lembrar-me com precisão. Perto do Saldanha? Perto da Estefânea? Mas onde? Onde??

Não consegui recordar-me. E voltei para casa. Mas ainda hoje estou a pensar nele...
Nunca me tinha acontecido uma coisa assim. Eu não sou destas coisas...
Mas, desta vez, apaixonei-me mesmo por aquele vestido! Era lindo!!

domingo, 3 de junho de 2007

O mundo lá fora


Tenho um primo que é membro destacado de uma organização internacional, com presença em muitos países e muitos cenários. Especialmente em cenários de guerra.
Na verdade não é um primo, é marido de uma prima. Na verdade, até é só ex-marido de uma prima agora. Mas isso é um assunto entre eles e para mim é tão primo como cresci a pensar que era.



Há uns anos esse primo teve a seu cargo uma missão importante num país que, não estando nessa altura já em guerra aberta, estava no processo de reconstrução ( e pacificação). Quiz levar-me, tentou convencer-me, tentou convencer a minha família que se opôs em absoluto. Eu também não senti uma vontade inegável de ir. Havia um encantamento claro, a visão romântica de ajudar, de poder fazer a diferença, o estar no epicentro dos acontecimentos... Havia, claro, mas o coração não deixava ir assim, simplesmente, mesmo sabendo que, apesar da distância, as viagens seriam frequentes. A família, os amigos, os meus animais, o sítio onde cresci... prendiam-me cá.

Ontem, entre um conjunto de outras pessoas, esse primo esteve cá. Entre um conjunto de assuntos também, este voltou. Não para o mesmo sítio agora. Agora podia ser para lá, ou para outro.

Uns anos passados desde essa primeira abordagem, já não penso que pudesse fazer uma grande diferença, já não acredito que o bem vence sempre o mal, já não acredito em contos de fadas.
Uns anos passados continuo a ter família, claro, continuo a ter animais de quem gosto muito e a quem estou muito ligada, continuo a ter laços com o lugar onde cresci e, talvez o mais importante ainda, continuo a ter amigos, mais amigos e melhores, que nisso sou de facto uma privilegiada.

Mas uns anos passados, ainda penso que posso ajudar um bocadinho. Nem que sejam poucas pessoas, mas podemos sempre ajudar, podemos sempre aliviar um bocadinho o sofrimento de alguém, podemos sempre atenuar um bocadinho as suas dores. A parte da política, das negociações, das estratégias, deixaram de me interessar.
Uns anos passados há uma coisa em mim que me manda sair, fugir, carregar na tecla Delete, correr até ao fim do mundo e mergulhar nos problemas de populações que sofrem para me esquecer de mim (ou do que tenho cá dentro). A contrariar isto existem as pessoas que me querem bem, que me acompanham, que se importam comigo. Há as pessoas de quem gosto, e que também gostam de mim. A contrariar isto há até o facto de me custar apagar isto, este blog, porque com ele, e com essa ida, que é uma fuga, apagaria também todas estas pessoas da minha vida.
Há uma coisa que me manda ir, para sempre. E eu só queria que essa coisa me segurasse a mão e dissesse: Não vás, que eu não quero que vás!
E eu não ia, e não pensava mais nisso, e teria paz.

Nota: É verdade. Não deixa de ser uma fuga. Mas não é uma fuga desesperada. Ainda assim é sempre melhor não termos do que fugir, claro. Mas por alguma razão ouço dizer que a vida é a arte do possível. Agora, parece-me que o post pode dar uma ideia de maior dramatismo do que existe, de facto. Bom... a forma como o post está escrita, e o comentário da minha amiga Catarina que, igual a si própria, dá sempre umas pinceladas de cores carregadas (sejam elas alegres ou sombrias) em tudo! Se como arquitecta fosse como é nas reacções e comentários seria um Gaudi (e não é, felizmente. porque os gostos são discutiveis mas eu prefiro ... o nosso Siza, ou assim).

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Avant-propos*

Umas das coisas que me enfiaram na cabeça, que ouvi repetidas vezes, até à exaustão, desde que me lembro de mim e durante todo o meu crescimento foi: Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti!

Regra simples e sensata de conduta. Forma fácil de distinguir o bem do mal porque, certamente, nós não gostariamos que nos fizessem mal.

O pior é a minha mania para os raciocínios, para procurar significados, interpretações, adaptações. E dei por mim a pegar neste enuciado simples e a fazer-lhe umas adaptações.

Ora, se não devemos fazer aos outros o que não gostariamos que nos fizessem a nós, então... se o outro faz uma coisa que nós não fariamos a ele, então está a fazer-nos mal, é porque não nos quer bem.
Se o outro faz o que eu não lhe faria, não me quer bem, e pronto.
E isto foi causa de centenas de lágrimas, de noites mal dormidas, de refeições sem apetite, de dores de coração...

Mas pode não ser bem assim!
O outro é sempre uma pessoa diferente de mim. Não pode reagir como se fosse eu.
Não posso esperar que haja como eu. Não podemos esperar isto das outras pessoas.
O outro não deve é fazer-me a mim, o que não gostaria que eu lhe fizesse.
E a partir de agora funciona assim (a partir de já há uns dias, confesso), a partir de agora, suponho que esta pequena diferenciação me poupará muitas lágrimas.

* O título acaba por ser influência das leituras a que tenho andado remetida (e vou que vão continuar, e continuar...). A nossa língua é muito rica, mas toda a vida me vou deparando com palavras noutras línguas que têm um significado tão preciso que acabam por dar jeito aqui e ali, em determinadas ocasiões. Não posso é utilizá-las em conversas com o meu pai que detesta misturas de línguas numa mesma conversa.
( e mau mesmo é, por exemplo, nunca me lembrar da palavra correspondente a vanilla -que é uma especiaria de que até gosto - na língua portuguesa. mas nunca! não consigo, não sei porquê!! se me perguntarem não sei!! não consigo lembrar-me!! e sim, a minha língua-mãe é o português, claro!)