quarta-feira, 31 de maio de 2006

Hoje...

... acordei mais tarde.
Não marquei despertador. Acordei e percebi que não havia Sol.
Lembrei-me da imensidão de coisas que tinha (e tenho) que fazer hoje, e não senti pressa de lhes deitar as mãos.
Deixei-me ficar... assim, languidamente, a esticar uma perna, a tactear a almofada, a sentir o contacto dos lençóis na pele, a ouvir os pássaros a cantar lá fora, e a sentir o prazer de obedecer à minha vontade.

Levantei-me e, na rua, a manhã cinzenta fez-me lembrar o mar e os dias de nevoeiro, com camisolas vestidas na areia. Quase me parecia que lhe sentia o cheiro.

Depois o dia corre como se esperava. Os assuntos, em vez de se resolverem, avolumam-se e multiplicam-se e prendem-se e agarram-se a nós sem nem percebermos como. E eu passo por eles, mas não me detenho. Tenho-os nas mãos, procuro resolvê-los, mas não me confundo com eles. Não, já não o faço. Eu, sou eu, e um sorriso sobrepõe-se a tudo isso.
De qualquer modo, logo à noite, tudo isto ficará no escritório, e eu volto a ser eu, sem eles. Também isto mudou.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Os homens - a outra face da moeda

Não sou feminista. Acho que homens e mulheres têm direitos iguais e valem o mesmo, mas não são iguais. E, muito menos, acho que nós, mulheres, devamos queimar soutiens e abolir ou massacrar o outro género.
Nestas questões sou muito pelo equilibrio e pela complementariedade.

Mas confesso, sim, mea culpa, que muitas vezes, a brincar ou a sério, lá digo num tom superior: Ah, mas nós mulheres somos mais "isto", ou mais "aquilo".
Mais sensíveis, mais compreensivas, mais atentas, mais disponíveis para nos levantarmos durante a noite em caso de necessidade, mais ternas, mais intuitivas, mais prontas a exteriorizar afectos, mais...
Enfim... mais muitas coisas que nos tornam, depois, mais deficitárias de mimo e compreensão. E também mais complicadas.

E os homens... coitados, na verdade, não são menos tudo!
Na verdade, podem até não nos compreender completamente, mas é a compreensão deles que buscamos, sobretudo se estivermos cansadas ou mais frágeis.
Quando precisamos de colo (se calhar até podia retirar o itálico), lembramo-nos deles. E quando estamos muito felizes... também.

E fazem-nos tanta falta para fazer uma coisa no computador de que não percebemos nada, para baixar o celim da bicicleta, para ir buscar o vinho de que nos esquecemos.
E nem sabem, o bem que fazem, ao mandar uma sms sem nexo a meio de um trabalho enfadonho e interminável. Já para não falar da capacidade que têm para matar melgas, seja lá por que misterioso meio for (sim é uma private joke, mais private do que joke) e de nos assegurar, assim um adormecer tranquilo.
Sim meninas, nós, conseguimos fazer tudo isto sem eles; mas não seria o mesmo!

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Este calor...


Está um calor infernal, e eu sinto-me mal com o calor.
Esta frase basta. Basta para justificar a falta de nexo deste post e a falta de sentido que tem tido o meu dia.

Sinto-me mal com temperaturas altas. A tensão baixa e chegam as tonturas, o apetite desaparece, a capacidade de concentração é uma miragem, a energia para fazer a mais simples das tarefas some-se, a pele parece que cola e os o número de duches por dia é, no minímo de três, à noite até o lençol em cima do corpo me parece ser demais, maldigo os dias de férias que tive e que me deixam agora sem capacidade de me escapar daqui, e a roupa diminui até ao limite do conveniente/suportável.

Sim, vim trabalhar de tshirt de algodão leve e branca, e de calções curtos, cremes, do tipo daqueles que eram usados pelos ingleses no tempo colonial em África e na Índia. Tenho noção que não é indumentária adequada, e por isso evito ser vista, mas não me escapei ao comentário: Parece uma inglesinha em África!
Pois parece! Sobretudo a pele branca afogueda pelo calor!
Ai... e tão fresquinho que está na Escócia...

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Perspectivas

Tinha a idade dela, talvez até um pouco menos, e gritava que queria andar a cavalo sózinha.
A cavalo! Nada de póneis, baixinhos. Nada disso!
Claro que os progenitores não concordavam, os avós não concordavam, os equitadores não concordavam... Havia uma larga concordância em não concordar.
Mas eu teimava; e não via mal nenhum no que fazia.

Hoje ponho-me a pensar... e se ela se desiquilibra? e se a égua faz um movimento brusco? e se se assusta com o cão? e o animal é tão alto...! e ela é tão pequenina...! e... , e... resolvo que não, que não anda nada xózinha! Anda comigo, que a seguro, como quem segura um cristal.
E não é minha filha, porque se fosse, então...
Como as perspectivas tornam as mesmas coisas tão diferentes!

segunda-feira, 22 de maio de 2006

A auditoria correu bem.
Acho que devia ter escrito isto a seguir a terem saído daqui. Mas depois... foi passando o tempo e pareceu-me pateta escrever isto, porque já não tinha a mesma importância que teve nesse dia.

Sim, a auditoria correu muito bem.
O computador deve regressar amanhã. A impressora já voltou ao normal. Mas continuamos sem cópias (o que dá algum transtorno).

...

O meu escritor preferido, o Camilo de Castelo Branco, teve uma vida trágica. Tanto que acabou por se suicidar, tanto que escreveu O Amor de Perdição atrás das grades de uma cadeia.
Gosto muito do Camilo...

O Camões também... amores condenados, exílio, a perda de uma vista, a perda da mulher que amava, o naufrágio que quase lhe tirou a vida e também quase lhe destruía a obra.

Ouvi dizer que para criar é preciso isso, para além do talento. Alguma tragédia, algum fatalismo, alguma angústia.

Ora eu, que nunca fui, nem tive a menor pretensão de ser escritora, nem, tão pouco, sou possuidora de algum talento, estou a viver um momento de bonomia...
Não tenho angústias; não estou a viver grandes tragédias; não me sinto perdida, nem insatisfeita, nem...
Há uma paz tranquila que se instalou, que facilita o sorriso e o adormecer rápido... mas prejudica a escrita.

É verdade que o tempo continua a ser tirano; que tenho muitas coisas por fazer e que nem sempre estou agora sentada à frente de um computador; que nesse tempo que arranjo prefiro espreitar os blogs de que gosto - e de quem gosto - , mesmo que quase sempre sem comentar nestes dias mas, é mais do que isso. Não sei bem o que escrever... é só.
A satisfação é inimiga da criação. Acho que é. Não é que me sinta absolutamente plena, mas sinto-me bem. Uma satisfação prazenteira que tem este efeito assim...
Tanto que nem um título sou capaz de arranjar para este post.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

&#%$&%

Uma impressora insiste em não reconhecer o tinteiro, a outra foi desinstalada e não se sabe do CD de instalação.

A fotocopiadora não funciona.

O meu computador tem lá dentro coisas indispensáveis para a auditoria - de que não fiz cópias -, ainda não sei quando estará arranjado nem me deram, nem vão dar hoje, cópias do que lá está.

A minha secretária bate o record mundial de desarrumação e eu não sei para onde me voltar.
Um patrão/pai nestas alturas diz sempre coisas que não deve.

A auditoria começa daqui a poucas horas...

Se isto não fosse um rés-de-chão, atirava-me da janela! Assim... nem sei!

terça-feira, 16 de maio de 2006

Los hombres...

Lá pelos sítios por onde andei, e onde tudo correu muito prazenteiramente, retive uma coisa que ouvi horas antes de regressar.
A intenção era boa, de certeza, mas aquilo não me suou nada bem. Tanto que ainda parece que ouço aquela voz.

Num acontecimento equestre, já no final, depois de muitos bons resultados e de toda a gente estar muito bem disposta, um grupo de jovens garbosos bebe umas cervejas perto de mim e de mais duas amigas ( uma delas só a conhecia há umas horas). A páginas tantas um deles levanta o copo e grita com voz segura:

- A las...

Mas olha para os outros, olha para nós e hesita.

- Es mejor...

- Sigue!!! , responde o outro.

Voltam a levantar os copos, olham para nós e, seguros de si, gritam os três:

- A las mujeres, a los caballos e a lo que és mejor para los dous: el hombre!

Nós olhámos umas para as outras incrédulas, eles riem-se a julgar que foram bem sucedidos, nós fazemos um sorriso amarelo e afastamo-nos deles.
Ai, los hombres, los hombres...! Os homens e esta cultura latina!
Mas será que não entendem? É verdade que nenhuma das três estava com apetência para se deixar conquistar mas, se alguém estivesse, também não resultaria assim. O caminho não é por aí! Passa por coisas bem mais súbtis e profundas, mas isso deve ser mesmo para muito poucos!

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Take 2

Há um não-sei-quê de estranho em voltar. Mais do que em partir.
Mesmo que os regressos sejam no mesmo número que as partidas, são sempre estranhos. Tanto mais quanto mais longa e, sobretudo, mais profunda e completa tiver sido essa partida.
São estranhos, por mais que se antecipe mentalmente, à medida que a distância em quilómetros vai encurtando, o que nos espera à chegada: as festinhas aos cães, os beijinhos à família, várias perguntas ao mesmo tempo, os relatos que são pedidos e que ainda não tivemos tempo nem vontade de tornar inteligíveis, a falta de compreensão de que o espírito demora mais a chegar do que o corpo e que, nessa altura, ainda está por aí, algures, no caminho.

Sabe bem a nossa banheira e, sobretudo, a nossa cama e as almofadas, mas demora-se algum tempo a sentir o quarto da mesma forma, como território privado e dominado, como meu quarto.

Acordo, estranhamente cedo, ainda antes do toque do despertador e fico e olhar em volta. Tem que ser, recomeçar tudo.
Tomo o pequeno-almoço enquanto vou pensando, desta vez, em tudo o que tenho por fazer, mas custa a recuperar até a desenvoltura deste tipo de raciocínio.

Primeiro não encontro as chaves, depois troco-as...
O meu computador de trabalho está avariado, estranho este com que estou temporáriamente (entre outras coisas não estão cá os favoritos), a impressora está sem tinta preta. As coisas que acontecem na nossa ausência...

A agenda... voltou! Eu sabia!!! Não está a ser fácil...
Mas lembro-me da imagem reflectida pelo espelho de manhã; aquela côr de pele não engana, não é o branco absoluto, insiste em lembrar que não foi aqui que passei as últimas semanas. Daqui a poucos dias já não haverá vestigios mas depois disso, o que vai cá dentro lembrar-me-á. Fui à minha procura e, dentro dos limites do possível, acho que me encontrei. Posso agarrar na claquete e gritar: Take 2!

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Technology free

Já lá vão uns dias e muitos mais quilómetros. O afastamento da internet não foi apenas originado pela falta de computador à mão. Foi intencional, fazia parte dos planos.

Ora vamos lá ver se também consegues passar sem isto?- disse eu para mim, tão baixinho que nem ouvi. Mas disse.

E consegui. Senti a falta e, de algumas pessoas, senti muitas saudades ( e sinto). Mas vive-se longe destas maquinetas. Vive-se mesmo, porque haverá sempre maneira de as pessoas não se pederem umas das outras.
Às vezes vive-se tão bem em sítios onde não temos mesmo acesso a estas coisas e onde nem sequer o telefone tem rede, com roaming ou sem ele.

Vive-se bem assim, a saltar de um lado para o outro da fronteira, uns dias lá e outros cá, o relógio com um fuso horário e o telemóvel com outro, uns dias com tapas e outras com comidinha bem nossa, à beira-mar ou no meio de serras quase inacessíveis.

Vive-se tão bem, tão bem que acho que já não concebo como normal passar aqui o que me parece ser uma eternidade a teimar com uma máquina estúpida que nem nos deixa aceder aos emails - sim! o que eu precisava era de ver os meus emails e não consigo!
E pensar que daqui a poucos dias uma coisa destas vai voltar a ser a minha principal companhia... Acho que vou ter que reaprender uma boa quantidade de coisas, mas o que aprendi nestes dias foi muito mais do que tudo isso!